Naquele tempo, os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam. Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração. Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado. Quando se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno. (Lc 2, 16-21)
Caros amigos e amigas, no início de cada ano civil, formulamos mutuamente votos de “feliz ano novo”, mas talvez continuemos a lançar mão de critérios velhos, para uma vida sem novidade. Maria pode ajudar-nos a encontrar o caminho: é n’Ela que se concretiza uma nova era para o mundo… através da simplicidade da sua obediência.
Encontraram Maria, José e o menino
Ao anúncio segue-se a procura. Na pressa dos pastores, que reflete a esperança viva de quem acredita, pressa que Maria já tinha experimentado quando procura a sua prima Isabel, está a sede do encontro e este acontece. Os pastores encontraram o que procuravam, talvez mais do que esperavam: Maria, José e o menino, envoltos em simplicidade e ternura. Da contemplação do mistério emerge a necessidade da partilha. A admiração é a resposta ao mistério porque não há palavras que contenham tal luz, e a notícia faz-se vida, constrói história, porque Ele se aproxima, habita em nós.
Maria conservava todas estas coisas
Maria contempla o invisível com os olhos do coração. É assim que ela reage ao mistério que a penetra, ser mãe do menino-Deus. Só um coração simples e disponível pode abarcar tal grandeza, de um Deus que se faz carne e constrói a sua tenda no meio de nós. Maria é essa tenda, que acolhe e conserva… As coisas de Deus são ponderadas no coração de Maria, refletidas, pensadas, questionadas. O ser de Maria não fica indiferente à presença de tão misterioso hóspede. É nesse coração de mãe que as “coisas de Deus” se conservam, se ponderam… temos que aprender com Maria a conservar, a ponderar, a dialogar com o mistério que nos abraça e quer nascer de nós para o mundo. Urge sermos conservadores da graça, não como possuidores passivos da mesma, mas como geradores de amor para o mundo sedento de afeto.
«O que torna a figura de Maria tão próxima de cada um de nós é a sua surpreendente docilidade àquilo que ainda não sabe ou não compreende mas vai “ponderando-as no seu coração”. Esta é uma mulher que se admira com as palavras grandiosas, que não percebe o que Jesus diz, que tem a coragem de pedir o que mais ninguém se lembra, que pratica o protagonismo do silêncio e da fé, que avança sem ver, que permanece na dor com a mesma entrega realizada na consolação e na luz. Não é uma super-mãe. É uma mulher cheia do Espírito.»
Maria, mãe
Deus precisou de uma mãe… de um seio que O acolhesse, de uns peitos que O amamentassem, de uns braços que O envolvessem, de umas mãos que O acariciassem. Deus precisou de uma mãe… de uns olhos que O procurassem, de um coração que O esperasse, de uns pés que O seguissem…até à cruz. Deus precisou de uma mãe… de uma mãe que precisasse também dele… E como Deus só sabe amar…partilha também connosco aquela que O acolhe.
Eis a tua mãe… todos precisamos de um seio materno que nos acolha na gestação da história que está para além do tempo e do espaço. É em Maria que encontramos o abraço materno de Deus.
VIVER A PALAVRA
Como Maria, quero cultivar um coração que escuta e uma fidelidade que obedece.
REZAR A PALAVRA
Maria, Mãe! A Tua maternidade é o lugar do encontro de Deus com a (minha) humanidade, deixa-me entrar no teu segredo e olhar-te desde um coração de criança.
Quero indagar, na eloquência do teu silêncio, a inteira disponibilidade para a escuta.
O Teu interior, fecundado pelo Espírito, ensina-me a aptidão para a germinação da Palavra.
A tua humildade canta para mim a suave alegria de crer,
estimula-me a ousadia da esperança, mostra-me a origem e a força da caridade.
Maria, o teu olhar atento e vigilante, saciado de sinais, está cheio de Deus!
Tu a feliz, volve o teu olhar para o nosso mundo e irradia nele o odor da bem aventurança.
Tu que és a pedagoga de Jesus, o Deus feito homem, ensina-me a tua fidelidade de discípula.
Tu que, com José, dás o nome a Jesus, mostra-O ao nosso mundo como o doce nome da Paz.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
Natal B
No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, Ele estava com Deus. Tudo se fez por meio d’Ele e sem Ele nada foi feito. N’Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas e as trevas não a receberam. Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. O Verbo era a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem. Estava no mundo e o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu. Veio para o que era seu e os seus não O receberam. Mas àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade. João dá testemunho d’Ele, exclamando: «É deste que eu dizia: ‘O que vem depois de mim passou à minha frente, porque existia antes de mim’». Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos graça sobre graça. Porque, se a Lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. A Deus, nunca ninguém O viu. O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer.» (Jo 1, 1-18)
Caros amigos e amigas, celebramos o Verbo… no verbo nascer. Mas, quem nasce? É ainda Jesus, ou é cada um de nós? É Jesus que quer nascer em nós, que nos convida a nascer, a deixarmo-nos ser recriados n’Ele.
O Verbo… vida e luz, nascer e ver, princípio e plenitude.
O Verbo é o princípio que nos franqueia o espaço para nascer. Nascer carrega intensamente o dinamismo da vida, pois aponta para uma ruptura constante com a morte. Celebrar o Natal de Jesus é um convite a nascer. É maravilhoso poder ainda hoje nascer, qualquer que seja a nossa idade. Uns capítulos mais à frente João narra-nos como Nicodemos ficou abalado com esta revelação. Jesus liberta-nos do pacto com uma “vida” viciada, que adormece na rotina e na insensibilidade, uma vida que se alimenta apenas na carne e no sangue... no imediato, na caducidade.
É também um convite a ver, porque o Verbo é a Luz. Sendo Deus e fazendo-Se nosso irmão, Ele escreve nos nossos olhos o reconfortante rosto de Deus que é Pai. Ele ilumina a penumbra dos nossos critérios e revela-nos a consumação da nossa humanidade peregrina: Ele mesmo, que é a plenitude.
A luz brilha nas trevas mas as trevas não a receberam
Este é o contundente drama da nossa humanidade! A habituação às sombras da arbitrariedade, torna-nos insensíveis ao esplendor da Verdade. O discípulo amado explica-nos que a Palavra Criadora entra nas entranhas da sua própria criação. É um movimento de humildade o deste Deus que desce... até nós, a ponto de assumir a nossa carne, como um inefável dom e, incrivelmente, é obsequiado com a rejeição. Como é possível que seja encarado como um estranho Aquele que conhece a composição orgânica das nossas células e o arcano dos nossos pensamentos? Como é possível que o contraste da Luz não intimide as trevas? É só possível porque em cada um de nós existe essa cega obstinação que nos encerra num nocturno eu, que tende a defender-se da denúncia da Luz, da Verdade. Porém, Deus não usa os nossos métodos drásticos, antes detém-se junto do nosso ser, com a paciência e a perseverança de um apaixonado.
Celebrar o Natal de Jesus é escutar de novo, desde os antros da noite, uma serenata amorosa por parte deste Deus pedinte que pede licença para entrar no que é seu, que suplica o que lhe pertence. Este delicado Deus que não conquista pela força mas investe em nos ganhar através do poder do amor.
E o Verbo fez-se carne e habitou entre nós
Habitou. Mas ainda habita. A Palavra Criadora pode ser exalada na nossa própria carne quando deixamos que Ele a assuma, que Ele encarne de novo no âmago da nossa vida. Desde o alfabeto das nossas possibilidades, na ortografia dos nossos gestos, nos fonemas das nossas obras, pode Deus manifestar a eloquência da salvação. Todo o meu ser pode falar (de) Deus; Ele tem, em mim, uma mensagem a proclamar!
Celebrar o Natal de Jesus é deixar que a nossa carne se torne numa manifestação do Verbo, é possibilitar que Jesus anuncie, hoje na minha vida, o vigor e a beleza do seu Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Vou oferecer Cristo como presente de Natal a quem me rodeia.
Caros amigos e amigas, celebramos o Verbo… no verbo nascer. Mas, quem nasce? É ainda Jesus, ou é cada um de nós? É Jesus que quer nascer em nós, que nos convida a nascer, a deixarmo-nos ser recriados n’Ele.
O Verbo… vida e luz, nascer e ver, princípio e plenitude.
O Verbo é o princípio que nos franqueia o espaço para nascer. Nascer carrega intensamente o dinamismo da vida, pois aponta para uma ruptura constante com a morte. Celebrar o Natal de Jesus é um convite a nascer. É maravilhoso poder ainda hoje nascer, qualquer que seja a nossa idade. Uns capítulos mais à frente João narra-nos como Nicodemos ficou abalado com esta revelação. Jesus liberta-nos do pacto com uma “vida” viciada, que adormece na rotina e na insensibilidade, uma vida que se alimenta apenas na carne e no sangue... no imediato, na caducidade.
É também um convite a ver, porque o Verbo é a Luz. Sendo Deus e fazendo-Se nosso irmão, Ele escreve nos nossos olhos o reconfortante rosto de Deus que é Pai. Ele ilumina a penumbra dos nossos critérios e revela-nos a consumação da nossa humanidade peregrina: Ele mesmo, que é a plenitude.
A luz brilha nas trevas mas as trevas não a receberam
Este é o contundente drama da nossa humanidade! A habituação às sombras da arbitrariedade, torna-nos insensíveis ao esplendor da Verdade. O discípulo amado explica-nos que a Palavra Criadora entra nas entranhas da sua própria criação. É um movimento de humildade o deste Deus que desce... até nós, a ponto de assumir a nossa carne, como um inefável dom e, incrivelmente, é obsequiado com a rejeição. Como é possível que seja encarado como um estranho Aquele que conhece a composição orgânica das nossas células e o arcano dos nossos pensamentos? Como é possível que o contraste da Luz não intimide as trevas? É só possível porque em cada um de nós existe essa cega obstinação que nos encerra num nocturno eu, que tende a defender-se da denúncia da Luz, da Verdade. Porém, Deus não usa os nossos métodos drásticos, antes detém-se junto do nosso ser, com a paciência e a perseverança de um apaixonado.
Celebrar o Natal de Jesus é escutar de novo, desde os antros da noite, uma serenata amorosa por parte deste Deus pedinte que pede licença para entrar no que é seu, que suplica o que lhe pertence. Este delicado Deus que não conquista pela força mas investe em nos ganhar através do poder do amor.
E o Verbo fez-se carne e habitou entre nós
Habitou. Mas ainda habita. A Palavra Criadora pode ser exalada na nossa própria carne quando deixamos que Ele a assuma, que Ele encarne de novo no âmago da nossa vida. Desde o alfabeto das nossas possibilidades, na ortografia dos nossos gestos, nos fonemas das nossas obras, pode Deus manifestar a eloquência da salvação. Todo o meu ser pode falar (de) Deus; Ele tem, em mim, uma mensagem a proclamar!
Celebrar o Natal de Jesus é deixar que a nossa carne se torne numa manifestação do Verbo, é possibilitar que Jesus anuncie, hoje na minha vida, o vigor e a beleza do seu Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Vou oferecer Cristo como presente de Natal a quem me rodeia.
REZAR A PALAVRA
Senhor,em Ti está o princípio, o tempo, a história... o amor.
Desces ao meu encontro e reclamas, em mim, uma morada para o Teu mistério.
Sou filho do Teu amor, Senhor. Pedinte da Tua vida e verdade, tabernáculo da Tua luz,
que não consigo reter, de tão brilhante que é, nas paredes débeis da minha tímida vontade.
Senhor, o Teu amor fez-se carne, habitas em nós. Como não poderei cantar este encontro?
Senhor o Teu amor é Palavra que abraça, como não poderei gritar esta aliança?
Louvo a Tua humildade que recria e inquieta...ontem, hoje e sempre é Natal!
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
IV Domingo Advento B
Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, que era descendente de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?». O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra». (Lc 1, 26-38)
Caros amigos e amigas, o Evangelho de hoje convoca-nos a escutar a Esperança e, como aquela jovem admirável de Nazaré, a sorrir a um Anjo. A cena da Anunciação é uma narrativa profundamente bela e uma novidade total na Bíblia. Todo o texto é composto em função do mistério de Cristo, a que Maria responde com disponibilidade total.
O imperativo da alegria: Alegra-te, ó cheia de graça
A absoluta iniciativa de Deus surpreende a humanidade. A saudação da voz vinda do céu, a do Anjo Gabriel «alegra-te ó cheia de Graça» = «tu que recebeste de graça» é uma palavra de bênção, que se tornou realidade em Maria e transformou a sua vida. Maria é definida pela sua essência de criatura harmoniosa e bela. A fé é dar atenção a quem nos chama pelo nome e espera uma resposta.
A reacção de Maria é natural e humana em dupla direcção: emotiva e racional. A pergunta que faz, toca o coração do mistério: «como é que vai ser isso, se eu não conheço homem?». O mensageiro responde: «a Deus nada é impossível». Diz, com efeito, que “Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos”. Nenhuma palavra criadora é impossível a Deus. Eis a serva. “Eis-me aqui”. A palavra nasce do silêncio. O Anjo sai em silêncio. Aqui começa o grande desafio da fé. Maria na fé é o exemplo de quem procura Deus «na noite da fé» (Santa Teresa do Menino Jesus). Ela evangeliza com toda a sua pessoa e confia plenamente Naquele que nela confiou, pois só a confiança pode conduzir ao Amor.
O encontro com o mistério muda a vida
Depois deste mistério da anunciação, Maria é uma pessoa a quem foi entregue um grande segredo que mudou a sua vida. É um segredo de alegria, mas também de dor. A toda bela e cheia da ternura desmesurada de Deus, mostra-nos o evangelho da Esperança, e acompanha-nos sempre, para que a conversão do coração seja autêntica em nós.
Na Anunciação ela torna-se verdadeiramente templo, habitação de Deus. A jovem de Nazaré aparece como a amada e serva do Senhor, Virgem e Mãe. Figura singular, Ela reassume o antigo e antecipa o novo. A sua identidade está ligada à sua feminilidade e à sua maternidade. Tudo acontece na esfera do Espírito Santo, que é a fecundidade de Deus, a potência geradora do Pai. Maria foi a primeira a beneficiar dos frutos da obra da Redenção, tornando-se a imagem e o modelo, segundo o qual Deus quer refazer o rosto da humanidade.
Maria, a jovem da Páscoa
Na Anunciação, o Senhor revestiu de eternidade o tempo. Aqui antecipa-se o mistério total de Cristo realizado na sua Páscoa. A Deus nada é impossível, mas nós podemos fazer todo o possível. Na anunciação acontece a possibilidade do impossível. Aqui a vida aparece como uma fonte inesgotável de surpresa. A vinda da Palavra dependeu da palavra da jovem Maria.
Como Isaías, Maria diz o seu Eis-me aqui. A alegria da fé é submeter-se livremente à palavra escutada, por a sua verdade ser garantida por Deus, que é a própria verdade. Desta obediência, o modelo que a Sagrada Escritura nos propõe é Abraão. A sua realização perfeita é a “cheia de graça”.
VIVER A PALAVRA
Quero sentir-me visitado(a) por Deus e portador(a) do divino hóspede.
REZAR A PALAVRA
Senhor, a Tua eternidade visita o meu tempo tão banal, no assomo de cada surpresa!
Vozes de anjos musicam cada detalhe, cantam a tua anunciação em cada encontro!!!
O perfume da tua tocante presença inebria de júbilo a monotonia de cada repetição.
Fazes florir a terra, na humildade de cada sinal e brilhas no milagre de cada sorriso.
Meu Deus, quero encontrar na atenção de Maria a porta que te disponibilize o meu ser;
Quero beber da fecundidade de Maria a confiança e a ousadia que geram a Esperança;
Quero colher do silêncio de Maria a serenidade e a fé em que cresças, Palavra Criadora!
Eis-me aqui, Senhor! Faça-se em mim, segundo a Tua Palavra!
Caros amigos e amigas, o Evangelho de hoje convoca-nos a escutar a Esperança e, como aquela jovem admirável de Nazaré, a sorrir a um Anjo. A cena da Anunciação é uma narrativa profundamente bela e uma novidade total na Bíblia. Todo o texto é composto em função do mistério de Cristo, a que Maria responde com disponibilidade total.
O imperativo da alegria: Alegra-te, ó cheia de graça
A absoluta iniciativa de Deus surpreende a humanidade. A saudação da voz vinda do céu, a do Anjo Gabriel «alegra-te ó cheia de Graça» = «tu que recebeste de graça» é uma palavra de bênção, que se tornou realidade em Maria e transformou a sua vida. Maria é definida pela sua essência de criatura harmoniosa e bela. A fé é dar atenção a quem nos chama pelo nome e espera uma resposta.
A reacção de Maria é natural e humana em dupla direcção: emotiva e racional. A pergunta que faz, toca o coração do mistério: «como é que vai ser isso, se eu não conheço homem?». O mensageiro responde: «a Deus nada é impossível». Diz, com efeito, que “Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos”. Nenhuma palavra criadora é impossível a Deus. Eis a serva. “Eis-me aqui”. A palavra nasce do silêncio. O Anjo sai em silêncio. Aqui começa o grande desafio da fé. Maria na fé é o exemplo de quem procura Deus «na noite da fé» (Santa Teresa do Menino Jesus). Ela evangeliza com toda a sua pessoa e confia plenamente Naquele que nela confiou, pois só a confiança pode conduzir ao Amor.
O encontro com o mistério muda a vida
Depois deste mistério da anunciação, Maria é uma pessoa a quem foi entregue um grande segredo que mudou a sua vida. É um segredo de alegria, mas também de dor. A toda bela e cheia da ternura desmesurada de Deus, mostra-nos o evangelho da Esperança, e acompanha-nos sempre, para que a conversão do coração seja autêntica em nós.
Na Anunciação ela torna-se verdadeiramente templo, habitação de Deus. A jovem de Nazaré aparece como a amada e serva do Senhor, Virgem e Mãe. Figura singular, Ela reassume o antigo e antecipa o novo. A sua identidade está ligada à sua feminilidade e à sua maternidade. Tudo acontece na esfera do Espírito Santo, que é a fecundidade de Deus, a potência geradora do Pai. Maria foi a primeira a beneficiar dos frutos da obra da Redenção, tornando-se a imagem e o modelo, segundo o qual Deus quer refazer o rosto da humanidade.
Maria, a jovem da Páscoa
Na Anunciação, o Senhor revestiu de eternidade o tempo. Aqui antecipa-se o mistério total de Cristo realizado na sua Páscoa. A Deus nada é impossível, mas nós podemos fazer todo o possível. Na anunciação acontece a possibilidade do impossível. Aqui a vida aparece como uma fonte inesgotável de surpresa. A vinda da Palavra dependeu da palavra da jovem Maria.
Como Isaías, Maria diz o seu Eis-me aqui. A alegria da fé é submeter-se livremente à palavra escutada, por a sua verdade ser garantida por Deus, que é a própria verdade. Desta obediência, o modelo que a Sagrada Escritura nos propõe é Abraão. A sua realização perfeita é a “cheia de graça”.
VIVER A PALAVRA
Quero sentir-me visitado(a) por Deus e portador(a) do divino hóspede.
REZAR A PALAVRA
Senhor, a Tua eternidade visita o meu tempo tão banal, no assomo de cada surpresa!
Vozes de anjos musicam cada detalhe, cantam a tua anunciação em cada encontro!!!
O perfume da tua tocante presença inebria de júbilo a monotonia de cada repetição.
Fazes florir a terra, na humildade de cada sinal e brilhas no milagre de cada sorriso.
Meu Deus, quero encontrar na atenção de Maria a porta que te disponibilize o meu ser;
Quero beber da fecundidade de Maria a confiança e a ousadia que geram a Esperança;
Quero colher do silêncio de Maria a serenidade e a fé em que cresças, Palavra Criadora!
Eis-me aqui, Senhor! Faça-se em mim, segundo a Tua Palavra!
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
III Domingo Advento B
Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Foi este o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas, para lhe perguntarem: «Quem és tu?». Ele confessou a verdade e não negou; ele confessou: «Eu não sou o Messias». Eles perguntaram-lhe: «Então, quem és tu? És Elias?». «Não sou», respondeu ele. «És o Profeta?». Ele respondeu: «Não». Disseram-lhe então: «Quem és tu? Para podermos dar uma resposta àqueles que nos enviaram, que dizes de ti mesmo?». Ele declarou: «Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías». Entre os enviados havia fariseus que lhe perguntaram: «Então, porque baptizas, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?». João respondeu-lhes: «Eu baptizo na água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias». Tudo isto se passou em Betânia, além do Jordão, onde João estava a baptizar. (Jo 1, 6-8. 19-28)
Caros amigos e amigas, João Baptista é uma personagem austera e rude demais para este tempo quase natalício. Contudo, ele é a voz que nos convida a reconhecer e a testemunhar a presença de Deus no meio de nós.
Dar testemunho da luz
Último profeta do Antigo Testamento, João é testemunha da luz que nasce. É-se testemunha quando a pessoa é transformada por aquilo que viu, experimentou, viveu. A testemunha é aquele que atesta com a vida.
Ser profeta é ser testemunha da luz e não das sombras; é anunciar o bem e não a aspereza do mundo; é ser sentinela da manhã e não porta-voz dos defeitos ou pecados que assediam qualquer vida; é ser testemunha não da lei mas da graça, daquele amor imenso que penetra o universo, de um Deus libertador à nossa procura para nos abrasar com o seu sol.
Como João queremos testemunhar este Deus de luz, que fez resplandecer a vida. O cristão não testemunha obrigações e proibições, mas deixa-se maravilhar pela luz que lhe vem encontro. Mesmo tendo um coração de sombras, somos vocacionados a ser profetas capazes de entrever aquela luz que regenera a vida. O testemunho evangélico não pede muitas coisas; pede apenas de se dizer diante de Cristo na relação com os outros.
“Quem és tu?”
Ecoa ainda aos nossos ouvidos a pergunta feita insistentemente pelos enviados dos judeus a João. Ainda bem que João responde por nós: “não sou!” Sou apenas uma voz, eco da palavra, amigo do esposo que vem. Esta é a resposta daquele que se despe de qualquer papel e deixa cair todas as aparências. Esta é também a nossa verdade: não somos o que aparentamos, o que produzimos, o que ganhamos. Não somos a pessoa prestigiosa que gostaríamos nem o fracassado que tememos ser; não somos o que os outros acreditam e dizem de nós, nem um santo ou apenas um pecador. Afirmando “não sou”, João anuncia com o indicador a presença do Messias que está à porta da história da humanidade e orienta-nos o olhar para os passos de Cristo.
Ser uma voz que clama no deserto
João é a voz que grita no deserto. Esta é a nossa identidade: somos uma voz, um grito, um apelo, uma fome, uma necessidade. Somos uma voz que traz dentro o desejo de vida, felicidade, amor verdadeiro. Todos somos um grito de sede de infinito, procura ávida do eterno.
Ser “voz” é ser pessoa, é estar em relação, diálogo, com as palavras que nos atravessam e nos fazem viver. Somos peregrinos e pedintes de uma voz que nos diga, no deserto da nossa vida, quem somos verdadeiramente. E só Deus tem a resposta. Esta é a razão da nossa alegria. Só Deus é a palavra; só Deus é o coração; nós somos eco e testemunhas daquele que está no meio de nós mas, tantas vezes, não reconhecemos.
Custa-nos reconhecê-lo nas Eucaristias, nas igrejas semi-vazias, nas famílias e comunidades, nos doentes, nos pobres, nos jovens e desesperados. Contudo, Ele vem e está no meio de nós, no centro do coração de cada um e no coração da vida quotidiana. Talvez, por isso, a maior viagem é a que vai da superfície ao coração. Ocorre ir além do nosso Jordão, dos nossos umbigos, para encontrar novamente a terra prometida que é Jesus, aquele espaço do céu dado à humanidade. Ocorre ir além das nossas palavras e gritos, das vozes e barulhos, ao encontro daquele que se ajoelhou aos nossos pés para os lavar e de quem não somos dignos de desatar as correias das sandálias. Só assim, amigos e amigas, seremos testemunhas e voz do Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Vou ganhar consciência de que não sou a Luz e da urgência de dar testemunho da Luz.
REZAR A PALAVRA
Senhor, a tua presença alvoroça de alegria o meu mundo, no âmago da noite e do silêncio!
Senhor, Tu és o Sol nascente, que raias nesta atmosfera embaciada de pessimismos,
peço-te uns olhos de profeta que descortinem a Tua presença acesa na esperança;
apaga toda a faúlha de vaidade, enche-me os olhos da Tua Luz, para ser testemunho da Luz.
Senhor,Tu és a Palavra eterna e criadora, audível no regenerante som do silêncio;
peço-te uma boca de profeta, provida no manancial da Tua revelação,
desencarcera-me a voz, prisioneira do meu egoísmo, para ser voz que te anuncia.
Caros amigos e amigas, João Baptista é uma personagem austera e rude demais para este tempo quase natalício. Contudo, ele é a voz que nos convida a reconhecer e a testemunhar a presença de Deus no meio de nós.
Dar testemunho da luz
Último profeta do Antigo Testamento, João é testemunha da luz que nasce. É-se testemunha quando a pessoa é transformada por aquilo que viu, experimentou, viveu. A testemunha é aquele que atesta com a vida.
Ser profeta é ser testemunha da luz e não das sombras; é anunciar o bem e não a aspereza do mundo; é ser sentinela da manhã e não porta-voz dos defeitos ou pecados que assediam qualquer vida; é ser testemunha não da lei mas da graça, daquele amor imenso que penetra o universo, de um Deus libertador à nossa procura para nos abrasar com o seu sol.
Como João queremos testemunhar este Deus de luz, que fez resplandecer a vida. O cristão não testemunha obrigações e proibições, mas deixa-se maravilhar pela luz que lhe vem encontro. Mesmo tendo um coração de sombras, somos vocacionados a ser profetas capazes de entrever aquela luz que regenera a vida. O testemunho evangélico não pede muitas coisas; pede apenas de se dizer diante de Cristo na relação com os outros.
“Quem és tu?”
Ecoa ainda aos nossos ouvidos a pergunta feita insistentemente pelos enviados dos judeus a João. Ainda bem que João responde por nós: “não sou!” Sou apenas uma voz, eco da palavra, amigo do esposo que vem. Esta é a resposta daquele que se despe de qualquer papel e deixa cair todas as aparências. Esta é também a nossa verdade: não somos o que aparentamos, o que produzimos, o que ganhamos. Não somos a pessoa prestigiosa que gostaríamos nem o fracassado que tememos ser; não somos o que os outros acreditam e dizem de nós, nem um santo ou apenas um pecador. Afirmando “não sou”, João anuncia com o indicador a presença do Messias que está à porta da história da humanidade e orienta-nos o olhar para os passos de Cristo.
Ser uma voz que clama no deserto
João é a voz que grita no deserto. Esta é a nossa identidade: somos uma voz, um grito, um apelo, uma fome, uma necessidade. Somos uma voz que traz dentro o desejo de vida, felicidade, amor verdadeiro. Todos somos um grito de sede de infinito, procura ávida do eterno.
Ser “voz” é ser pessoa, é estar em relação, diálogo, com as palavras que nos atravessam e nos fazem viver. Somos peregrinos e pedintes de uma voz que nos diga, no deserto da nossa vida, quem somos verdadeiramente. E só Deus tem a resposta. Esta é a razão da nossa alegria. Só Deus é a palavra; só Deus é o coração; nós somos eco e testemunhas daquele que está no meio de nós mas, tantas vezes, não reconhecemos.
Custa-nos reconhecê-lo nas Eucaristias, nas igrejas semi-vazias, nas famílias e comunidades, nos doentes, nos pobres, nos jovens e desesperados. Contudo, Ele vem e está no meio de nós, no centro do coração de cada um e no coração da vida quotidiana. Talvez, por isso, a maior viagem é a que vai da superfície ao coração. Ocorre ir além do nosso Jordão, dos nossos umbigos, para encontrar novamente a terra prometida que é Jesus, aquele espaço do céu dado à humanidade. Ocorre ir além das nossas palavras e gritos, das vozes e barulhos, ao encontro daquele que se ajoelhou aos nossos pés para os lavar e de quem não somos dignos de desatar as correias das sandálias. Só assim, amigos e amigas, seremos testemunhas e voz do Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Vou ganhar consciência de que não sou a Luz e da urgência de dar testemunho da Luz.
REZAR A PALAVRA
Senhor, a tua presença alvoroça de alegria o meu mundo, no âmago da noite e do silêncio!
Senhor, Tu és o Sol nascente, que raias nesta atmosfera embaciada de pessimismos,
peço-te uns olhos de profeta que descortinem a Tua presença acesa na esperança;
apaga toda a faúlha de vaidade, enche-me os olhos da Tua Luz, para ser testemunho da Luz.
Senhor,Tu és a Palavra eterna e criadora, audível no regenerante som do silêncio;
peço-te uma boca de profeta, provida no manancial da Tua revelação,
desencarcera-me a voz, prisioneira do meu egoísmo, para ser voz que te anuncia.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
II Domingo Advento B
Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Está escrito no profeta Isaías: «Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’». Apareceu João Baptista no deserto, a proclamar um baptismo de penitência para remissão dos pecados. Acorria a ele toda a gente da região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém, e eram baptizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. João vestia-se de pêlos de camelo, com um cinto de cabedal em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. E, na sua pregação, dizia: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu baptizo-vos na água, mas Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo»! (Mc 1, 1-8)
Caros amigos e amigas, o Evangelho apresenta-nos a figura de João que, através da própria vida, das suas palavras e do seu baptismo de conversão, prepara a estrada Àquele que vem: Jesus Cristo!
“Princípio do Evangelho de Jesus Cristo”
Ainda bem que Marcos escreve “princípio do Evangelho de Jesus” e não redige “princípio do manual enfadonho para se ser boa pessoa”. Iniciar de Jesus é sempre um recomeço, uma nova criação, um novo génesis. Só de uma boa notícia se pode recomeçar a viver, a projectar algo novo, a atravessar os desertos. No princípio está Cristo. É Ele o fundamento. O Evangelho não é um livro, mas é uma pessoa: Jesus Cristo. É Ele o livro onde Deus colocou toda a grafia do seu coração.
“Iniciar do Evangelho” é literalmente iniciar da única “boa notícia” e não partir dos nossos pessimismos, medos, desesperos, pecados ou até boas intenções. É iniciar a partir da alegre notícia de Deus, da sua presença constante que entra no nosso deserto e semeia novos céus e nova terra.
“Voz que grita no deserto”
Se Deus se quer fazer ouvir, se quer tocar o coração dos homens, porque grita no silêncio do deserto, ali onde ninguém o pode ouvir? Porque no deserto só a verdade sobrevive. Ali só o essencial vale. No deserto de nada servem as mentiras, as aparências dissipam-se, as promessas de pouco valem, as palavras e os discursos vazios não saciam.
João Baptista recorda o essencial da vida: é pouco diplomata nos modos e etiquetas, não está preocupado com a indumentária e certamente não sabe apreciar uma bela refeição ou como usar os talheres. Mesmo se o estilo não é cativante, João grita à verdade do coração. O profeta é aquele que grita com a própria vida verdades essenciais. A nossa vida, iniciada no Evangelho, é um grito à humanidade! No deserto, mesmo quando tudo falta, Deus vem à nossa procura!
Naquele horizonte infinito, onde as estradas não estão traçadas, tudo é um convite à aventura. Sem distracções ou coisas superficiais, no meio do silêncio, o homem encontra-se a si mesmo porque encontra Deus que lhe vem ao encontro.
“Convertei-vos”
João faz-se grito do Evangelho! Aquele “convertei-vos” não se contenta com uma maquilhagem exterior, mas é um regressar Àquele que dá vida, é abater os muros que separam, é arrancar as raízes que sufocam, é endireitar os caminhos que conduzem à vida!
Mesmo assim, o movimento decisivo da nossa história e do mundo não é o esforço que de baixo tenta subir ao céu, mas é o dom que do alto desce rumo a nós. Esta é a alegre notícia: é Deus que nos persegue e alcança; a estrada a preparar é a sua.
A conversão não é principalmente uma questão de propósitos; mas é uma questão de vida e de coração! É colocar os passos nas pegadas de Cristo e caminhar decididamente atrás Dele, com a certeza que Ele é o tesouro mais precioso pelo qual vale a pena deixar tudo. Na verdade, amigos e amigas, só Ele é o Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Vou rever o centro das minhas prioridades: os meus olhos esperam Aquele que me vem salvar?
REZAR A PALAVRA
Senhor, leio as mensagens que envias teimosamente à minha história.
Falas-me de amor, de perdão, de mudança, de penitência…
Mas não deixo que elas transformem o meu caminhar numa procura sedenta do teu amor.
Não deixo que elas transformem o meu espaço interior num berço humilde para te acolher.
Vais chegar! Que tenho preparado para ti? Na minha pequenez desejo sentir-te.
Calo as minhas razões e justificações diante do mistério,
para que sejas tu a falar pelo Espírito que dá a vida.
Caros amigos e amigas, o Evangelho apresenta-nos a figura de João que, através da própria vida, das suas palavras e do seu baptismo de conversão, prepara a estrada Àquele que vem: Jesus Cristo!
“Princípio do Evangelho de Jesus Cristo”
Ainda bem que Marcos escreve “princípio do Evangelho de Jesus” e não redige “princípio do manual enfadonho para se ser boa pessoa”. Iniciar de Jesus é sempre um recomeço, uma nova criação, um novo génesis. Só de uma boa notícia se pode recomeçar a viver, a projectar algo novo, a atravessar os desertos. No princípio está Cristo. É Ele o fundamento. O Evangelho não é um livro, mas é uma pessoa: Jesus Cristo. É Ele o livro onde Deus colocou toda a grafia do seu coração.
“Iniciar do Evangelho” é literalmente iniciar da única “boa notícia” e não partir dos nossos pessimismos, medos, desesperos, pecados ou até boas intenções. É iniciar a partir da alegre notícia de Deus, da sua presença constante que entra no nosso deserto e semeia novos céus e nova terra.
“Voz que grita no deserto”
Se Deus se quer fazer ouvir, se quer tocar o coração dos homens, porque grita no silêncio do deserto, ali onde ninguém o pode ouvir? Porque no deserto só a verdade sobrevive. Ali só o essencial vale. No deserto de nada servem as mentiras, as aparências dissipam-se, as promessas de pouco valem, as palavras e os discursos vazios não saciam.
João Baptista recorda o essencial da vida: é pouco diplomata nos modos e etiquetas, não está preocupado com a indumentária e certamente não sabe apreciar uma bela refeição ou como usar os talheres. Mesmo se o estilo não é cativante, João grita à verdade do coração. O profeta é aquele que grita com a própria vida verdades essenciais. A nossa vida, iniciada no Evangelho, é um grito à humanidade! No deserto, mesmo quando tudo falta, Deus vem à nossa procura!
Naquele horizonte infinito, onde as estradas não estão traçadas, tudo é um convite à aventura. Sem distracções ou coisas superficiais, no meio do silêncio, o homem encontra-se a si mesmo porque encontra Deus que lhe vem ao encontro.
“Convertei-vos”
João faz-se grito do Evangelho! Aquele “convertei-vos” não se contenta com uma maquilhagem exterior, mas é um regressar Àquele que dá vida, é abater os muros que separam, é arrancar as raízes que sufocam, é endireitar os caminhos que conduzem à vida!
Mesmo assim, o movimento decisivo da nossa história e do mundo não é o esforço que de baixo tenta subir ao céu, mas é o dom que do alto desce rumo a nós. Esta é a alegre notícia: é Deus que nos persegue e alcança; a estrada a preparar é a sua.
A conversão não é principalmente uma questão de propósitos; mas é uma questão de vida e de coração! É colocar os passos nas pegadas de Cristo e caminhar decididamente atrás Dele, com a certeza que Ele é o tesouro mais precioso pelo qual vale a pena deixar tudo. Na verdade, amigos e amigas, só Ele é o Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Vou rever o centro das minhas prioridades: os meus olhos esperam Aquele que me vem salvar?
REZAR A PALAVRA
Senhor, leio as mensagens que envias teimosamente à minha história.
Falas-me de amor, de perdão, de mudança, de penitência…
Mas não deixo que elas transformem o meu caminhar numa procura sedenta do teu amor.
Não deixo que elas transformem o meu espaço interior num berço humilde para te acolher.
Vais chegar! Que tenho preparado para ti? Na minha pequenez desejo sentir-te.
Calo as minhas razões e justificações diante do mistério,
para que sejas tu a falar pelo Espírito que dá a vida.
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
I Domingo Advento B
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Acautelai-vos e vigiai, porque não sabeis quando chegará o momento. Será como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, deu plenos poderes aos seus servos, atribuindo a cada um a sua tarefa, e mandou ao porteiro que vigiasse. Vigiai, portanto, visto que não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se de manhãzinha; não se dê o caso que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!». (Mc 13, 33-37)
Sempre nos custa esperar. Mas quando o amor é maior, o tempo de espera constrói-nos por dentro e permite-nos criar espaço para o hóspede. É tempo de Advento, de espera(nça), de acolhimento, de surpresa, de trabalhar em nós a missão de sentinela! A qualquer momento, Cristo pedirá para entrar, para nascer de novo em nós.
Chegará o momento
A história faz-se de momentos. Pequenos flashes que constroem um caminho de busca e de espera. Há encontros previamente marcados, momentos que já esperamos e nos colocam numa atitude prévia de acolhimento. Mas na nossa vida, muitos mais são os momentos inesperados, os encontros surpresa, que testam a nossa capacidade de vigilância e de acolhimento. As novidades teimam em quebrar a nossa rotina. E ainda bem! Deus é sempre novo, a sua novidade convida-nos a vigiar, pois há sempre um novo momento de encontro com Ele.
A cada um a sua tarefa
No livro da vida, Deus precisa de nós. Atribui a cada um a sua tarefa. Confia nas nossas mãos, no nosso coração, nos nossos lábios, nos nossos pés…deixa-nos “entregues” à sua casa. Não nos questiona esta confiança desmedida de Deus? Como nos encontrará e encontrará a Sua casa ao voltar?
Vigiai!
Se soubéssemos quando o Senhor vem e como, não precisaríamos de vigiar, bastaria marcar uma hora com Ele, ou estarmos prontos no momento certo. Mas Deus é surpresa. Surge na tarde, no cansaço do trabalho, nas horas de menos paciência, de maior azáfama… e aí será urgente vigiar. Vigiar na tarde, é manter um coração sereno e aberto ao tudo que é Deus, pois só Ele basta.
Deus é surpresa. Surge à meia noite, quando o sono da rotina nos adormece, quando os sonhos pessoais escurecem o sonho de Deus sobre nós…e aí será urgente vigiar. Vigiar na noite, é deixar espaço para a gratidão, para o louvor, para o perdão e para o sonho que Deus tem para nós, pois Ele é tudo.
Deus é surpresa. Surge ao cantar do galo, quando a vida aflora e não temos tempo para Ele, quando os queixumes e o desespero nos deixam ensonados… e aí será urgente vigiar. Vigiar pela manhã, é abrir o coração à novidade da Palavra e à fome do Pão e deixar que seja Ele a conduzir o nosso dia, pois Ele quer habitar em nós.
Deus é surpresa e, ou vigiamos, ou nos encontrará a dormir.
VIVER A PALAVRA
Vou cultivar uma atenção permanente para ler os inesperados anúncios de Deus.
REZAR A PALAVRA
Perturbas-me, Deus da demora e da pressa, Deus do já e do ainda não.
Tu que me sacias, és a veemência da minha sede; Tu que me serenas, tanto me inquietas!
Tu que me procuras és o mesmo que me mandas esperar-Te em hora incerta.
Tu que és o milagre, nunca me dás resolvidas as equações da vida!
Tu que me fazes sonhar e és o meu repouso, não suportas encontrar-me a dormir!
Tu que, ao pormenor, me responsabilizas, envolves-me numa confiança infinda.
Perturbas-me e encantas-me, Deus novo, que me fazes de novo, em cada desafio.
Amo-te, supreendente Deus, que confias ao meu coração um pleno poder de amar!
Ofereço-te o meu labor, Deus que não deixas perder a minha vida quando morre por ti!
Espero-te, Deus que esperas sempre por mim e nunca desistes de me encontrar.
O teu momento já vive em mim: não deixes que a espera queime a esperança.
Sempre nos custa esperar. Mas quando o amor é maior, o tempo de espera constrói-nos por dentro e permite-nos criar espaço para o hóspede. É tempo de Advento, de espera(nça), de acolhimento, de surpresa, de trabalhar em nós a missão de sentinela! A qualquer momento, Cristo pedirá para entrar, para nascer de novo em nós.
Chegará o momento
A história faz-se de momentos. Pequenos flashes que constroem um caminho de busca e de espera. Há encontros previamente marcados, momentos que já esperamos e nos colocam numa atitude prévia de acolhimento. Mas na nossa vida, muitos mais são os momentos inesperados, os encontros surpresa, que testam a nossa capacidade de vigilância e de acolhimento. As novidades teimam em quebrar a nossa rotina. E ainda bem! Deus é sempre novo, a sua novidade convida-nos a vigiar, pois há sempre um novo momento de encontro com Ele.
A cada um a sua tarefa
No livro da vida, Deus precisa de nós. Atribui a cada um a sua tarefa. Confia nas nossas mãos, no nosso coração, nos nossos lábios, nos nossos pés…deixa-nos “entregues” à sua casa. Não nos questiona esta confiança desmedida de Deus? Como nos encontrará e encontrará a Sua casa ao voltar?
Vigiai!
Se soubéssemos quando o Senhor vem e como, não precisaríamos de vigiar, bastaria marcar uma hora com Ele, ou estarmos prontos no momento certo. Mas Deus é surpresa. Surge na tarde, no cansaço do trabalho, nas horas de menos paciência, de maior azáfama… e aí será urgente vigiar. Vigiar na tarde, é manter um coração sereno e aberto ao tudo que é Deus, pois só Ele basta.
Deus é surpresa. Surge à meia noite, quando o sono da rotina nos adormece, quando os sonhos pessoais escurecem o sonho de Deus sobre nós…e aí será urgente vigiar. Vigiar na noite, é deixar espaço para a gratidão, para o louvor, para o perdão e para o sonho que Deus tem para nós, pois Ele é tudo.
Deus é surpresa. Surge ao cantar do galo, quando a vida aflora e não temos tempo para Ele, quando os queixumes e o desespero nos deixam ensonados… e aí será urgente vigiar. Vigiar pela manhã, é abrir o coração à novidade da Palavra e à fome do Pão e deixar que seja Ele a conduzir o nosso dia, pois Ele quer habitar em nós.
Deus é surpresa e, ou vigiamos, ou nos encontrará a dormir.
VIVER A PALAVRA
Vou cultivar uma atenção permanente para ler os inesperados anúncios de Deus.
REZAR A PALAVRA
Perturbas-me, Deus da demora e da pressa, Deus do já e do ainda não.
Tu que me sacias, és a veemência da minha sede; Tu que me serenas, tanto me inquietas!
Tu que me procuras és o mesmo que me mandas esperar-Te em hora incerta.
Tu que és o milagre, nunca me dás resolvidas as equações da vida!
Tu que me fazes sonhar e és o meu repouso, não suportas encontrar-me a dormir!
Tu que, ao pormenor, me responsabilizas, envolves-me numa confiança infinda.
Perturbas-me e encantas-me, Deus novo, que me fazes de novo, em cada desafio.
Amo-te, supreendente Deus, que confias ao meu coração um pleno poder de amar!
Ofereço-te o meu labor, Deus que não deixas perder a minha vida quando morre por ti!
Espero-te, Deus que esperas sempre por mim e nunca desistes de me encontrar.
O teu momento já vive em mim: não deixes que a espera queime a esperança.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Cristo Rei A
Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do homem vier na sua glória com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão na sua presença, e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai; recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me’. Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e Te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’. E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes’. Dirá então aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos. Porque tive fome e não Me destes de comer; tive sede e não Me destes de beber; era peregrino e não Me recolhestes; estava sem roupa e não Me vestistes; estive doente e na prisão e não Me fostes visitar’. Então também eles Lhe hão-de perguntar: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede, peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão, e não Te prestámos assistência?’. E Ele lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer’. Estes irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna». (Mt 25, 31-36)
Caras amigas e amigos, com a festa de Cristo Rei conclui-se o ano litúrgico percorrido na companhia de Mateus. O Evangelho recorda-nos que no fim seremos julgados pelo Amor sobre o amor.
Só o bem e a beleza contam!
Seduz este Evangelho: nos arquivos de Deus não estão assinaladas as falhas, mas estão apenas memorizados os gestos de amor e bondade. Não são elencadas as nossas sombras, mas as sementes de amor, as lágrimas enxugadas e as vidas partilhas. Deus vê apenas o bem da vida e não as suas fragilidades. Diante Dele não tememos os nossos pecados, tememos antes as mãos vazias. O Pai não olhará para nós, mas olhará à nossa volta, olhará para a quantidade de lágrimas e de pessoas que nos foram confiadas.
Hoje, somos nós que julgamos os necessitados e os pobres e, neles, o próprio Deus. Agora, somos nós o gesto de bênção ou de rejeição, somos nós o pão do esfomeado ou o deserto do abandonado.
“O que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos a Mim o fizestes”
Mateus apresenta seis obras, tão vastas quanto o sofrimento humano. A ninguém é pedido um milagre ou o impossível, apenas o empenho de visitar doentes, de ajudar um idoso acamado, de cuidar do cônjuge e do filho, do vizinho solitário… Exigente beleza deste Evangelho: estar atento e cuidar do irmão é algo tão importante que Deus liga a vida eterna a um pedaço de pão; é algo tão fácil que todos, mesmo o mais pobre, tem tempo, um sorriso e um coração, para poder ser salvo.
Quem toca um pobre trespassa o céu de Deus
O Evangelho é claro: no céu entrarão apenas aqueles que tiverem entrado na vida e na casa dos pobres. O julgamento final não será dirigido sobre a nossa pessoa, mas sobre os nossos pobres, os nossos esfomeados, os nossos abandonados. O juízo não será sobre nós mas sobre as nossas relações. Deus julgar-me-á olhando não para mim mas para aqueles que por mim foram consolados, os que de mim receberam esperança e força para continuar o caminho, os que se alegraram com o pão e a água que lhes dei, os que ressuscitaram com a coragem e ânimo recebidos. Afastando-nos do pobre afastamo-nos de Deus e afastamo-nos de nós próprios. É esta a perdição: o afastamento da vida. Não haverá amanhã para quem não se abrir fazendo-se casa e pão para os outros, tornando-se desde já suplício ou paraíso para todos.
No juízo final, Deus sonha com um homem sem fome nem lágrimas, sem prisões nem doenças, feliz e salvo. O futuro não se espera, mas constrói-se: o futuro, o céu, o paraíso é gerado pelo bem que tu e eu damos aos inumeráveis lázaros desta terra que diariamente se cruzam connosco. Só assim Deus reina no universo!
Quando a nossa mão toca um pobre, os nossos dedos atravessam o céu de Deus. O mais pequeno é o éden de Deus. O pobre é mestre da fé porque encarna na sua vida uma evidência: todos nós vivemos apenas porque temos alguém; subsistimos unicamente porque somos auxiliados pelos outros; existimos somente porque somos acolhidos por Alguém, impaciente por nos repetir: Vem, bendito de meu Pai! Isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Vou deixar que o amor se manifeste em gestos para com os “mais pequenos”.
REZAR A PALAVRA
Senhor, Teu é o Reino, o Poder e a Glória... quero que sejas o Rei do meu desígnio de amar.
Dá-me olhos que leiam a nobreza do Teu rosto, nos rostos apagados pelo sofrimento...
Dá-me mãos que se dignifiquem na glória do serviço e se deleitem com a coroa da gratuidade.
Dá-me um coração que, do trono da humildade, exerça o poder omnipotente do Teu amor.
Não permitas que o meu desejo de reinar te esconda e a omissão de amar me faça perder,
mas que a busca do Teu Reino te encontre e uma entrega incondicional me construa.
Caras amigas e amigos, com a festa de Cristo Rei conclui-se o ano litúrgico percorrido na companhia de Mateus. O Evangelho recorda-nos que no fim seremos julgados pelo Amor sobre o amor.
Só o bem e a beleza contam!
Seduz este Evangelho: nos arquivos de Deus não estão assinaladas as falhas, mas estão apenas memorizados os gestos de amor e bondade. Não são elencadas as nossas sombras, mas as sementes de amor, as lágrimas enxugadas e as vidas partilhas. Deus vê apenas o bem da vida e não as suas fragilidades. Diante Dele não tememos os nossos pecados, tememos antes as mãos vazias. O Pai não olhará para nós, mas olhará à nossa volta, olhará para a quantidade de lágrimas e de pessoas que nos foram confiadas.
Hoje, somos nós que julgamos os necessitados e os pobres e, neles, o próprio Deus. Agora, somos nós o gesto de bênção ou de rejeição, somos nós o pão do esfomeado ou o deserto do abandonado.
“O que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos a Mim o fizestes”
Mateus apresenta seis obras, tão vastas quanto o sofrimento humano. A ninguém é pedido um milagre ou o impossível, apenas o empenho de visitar doentes, de ajudar um idoso acamado, de cuidar do cônjuge e do filho, do vizinho solitário… Exigente beleza deste Evangelho: estar atento e cuidar do irmão é algo tão importante que Deus liga a vida eterna a um pedaço de pão; é algo tão fácil que todos, mesmo o mais pobre, tem tempo, um sorriso e um coração, para poder ser salvo.
Quem toca um pobre trespassa o céu de Deus
O Evangelho é claro: no céu entrarão apenas aqueles que tiverem entrado na vida e na casa dos pobres. O julgamento final não será dirigido sobre a nossa pessoa, mas sobre os nossos pobres, os nossos esfomeados, os nossos abandonados. O juízo não será sobre nós mas sobre as nossas relações. Deus julgar-me-á olhando não para mim mas para aqueles que por mim foram consolados, os que de mim receberam esperança e força para continuar o caminho, os que se alegraram com o pão e a água que lhes dei, os que ressuscitaram com a coragem e ânimo recebidos. Afastando-nos do pobre afastamo-nos de Deus e afastamo-nos de nós próprios. É esta a perdição: o afastamento da vida. Não haverá amanhã para quem não se abrir fazendo-se casa e pão para os outros, tornando-se desde já suplício ou paraíso para todos.
No juízo final, Deus sonha com um homem sem fome nem lágrimas, sem prisões nem doenças, feliz e salvo. O futuro não se espera, mas constrói-se: o futuro, o céu, o paraíso é gerado pelo bem que tu e eu damos aos inumeráveis lázaros desta terra que diariamente se cruzam connosco. Só assim Deus reina no universo!
Quando a nossa mão toca um pobre, os nossos dedos atravessam o céu de Deus. O mais pequeno é o éden de Deus. O pobre é mestre da fé porque encarna na sua vida uma evidência: todos nós vivemos apenas porque temos alguém; subsistimos unicamente porque somos auxiliados pelos outros; existimos somente porque somos acolhidos por Alguém, impaciente por nos repetir: Vem, bendito de meu Pai! Isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Vou deixar que o amor se manifeste em gestos para com os “mais pequenos”.
REZAR A PALAVRA
Senhor, Teu é o Reino, o Poder e a Glória... quero que sejas o Rei do meu desígnio de amar.
Dá-me olhos que leiam a nobreza do Teu rosto, nos rostos apagados pelo sofrimento...
Dá-me mãos que se dignifiquem na glória do serviço e se deleitem com a coroa da gratuidade.
Dá-me um coração que, do trono da humildade, exerça o poder omnipotente do Teu amor.
Não permitas que o meu desejo de reinar te esconda e a omissão de amar me faça perder,
mas que a busca do Teu Reino te encontre e uma entrega incondicional me construa.
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
XXXIII Domingo Comum A
Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «Um homem, ao partir de viagem, chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens. A um entregou cinco talentos, a outro dois e a outro um, conforme a capacidade de cada qual; e depois partiu. O que tinha recebido cinco talentos fê-los render e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o que recebera dois talentos ganhou outros dois. Mas o que recebera um só talento foi escavar na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. Muito tempo depois, chegou o senhor daqueles servos e foi ajustar contas com eles. O que recebera cinco talentos aproximou-se e apresentou outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos: aqui estão outros cinco que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera dois talentos e disse: ‘Senhor, confiaste-me dois talentos: aqui estão outros dois que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera um só talento e disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e recolhes onde nada lançaste. Por isso, tive medo e escondi o teu talento na terra. Aqui tens o que te pertence’. O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei e recolho onde nada lancei; devias, portanto, depositar no banco o meu dinheiro, e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu. Tirai-lhe então o talento e dai-o àquele que tem dez. Porque, a todo aquele que tem, dar-se-á mais e terá em abundância; mas, àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o às trevas exteriores. Aí haverá choro e ranger de dentes’». (Mt 25, 14-30)
Caras amigas e amigos, a parábola dos talentos é um hino à confiança e à criatividade de Deus que deposita em cada um de nós sementes de futuro para rentabilizarmos apaixonadamente esse tesouro.
Um mundo de talentos
Todos somos uma montanha de possibilidades, uma mão cheia de sementes prontas a florescer. Talvez seja mais fácil sublinhar os defeitos do que reconhecer os dons. Contudo, a parábola diz-nos que ninguém é sem talento. Cada um é dom e talento precioso de Deus para os outros que enriquece a vida. Assim, o esposo pode repetir à esposa, o irmão ao amigo, o pai ao filho: “és tu o meu talento”; “como talento recebi-te a ti”!
“Toma parte na alegria do teu patrão”
Confiando os talentos, o patrão deseja que os servos se tornem seus íntimos colaboradores, seus amigos, sua família. Os talentos são dons de comunhão, partilha da própria vida, participação da riqueza pessoal. Deus confia-nos a vida não como um peso e uma condenação, mas como um dom, uma graça, uma bênção, uma oportunidade, com o ónus da alegria e da responsabilidade, do sucesso e das suas canseiras.
Os dois primeiros servos tomam parte na alegria do patrão porque envolvidos na geração da vida, na partilha, entrega e dedicação. Já o terceiro servo, sem paixão pelo Reino, enterra a própria felicidade, esconde-se no anonimato e no medo, torna-se escravo apático em vez de amigo. Mas isso é muito pouco porque há uma vida que urge e que pede para crescer. Guardar, esconder, assegurar, é uma tarefa ingrata e inútil. O nosso papel é o da multiplicação de mais vida, imitando os gestos de Deus, numa espiral crescente de amor. Não somos latas de conserva com prazo de validade, mas servidores da força imensa e do fermento escondido dentro tudo o que vive.
Maravilhosa pedagogia divina
No fim, o patrão surpreende os servos e não quer de volta os talentos confiados, mas multiplica-os de novo. Não há uma restituição, mas um relançamento, um recomeço de mais amor e confiança. Não devemos restituir a Deus os seus dons, porque esses quando trabalhados tornam-se fermento, semente de outros dons, horizonte que se dilata, uma pedagogia da vida, um poema à criatividade. Não existimos para restituir a Deus os seus dons, mas vivemos para ser como Ele, com exuberância, doadores de luz e de vida. Deus tem uma infinita confiança em nós.
O julgamento não será então sobre a quantidade do ganho, mas sobre a qualidade do serviço, não sobre o número, mas sobre a verdade dos frutos. A felicidade não é filha da quantidade de talentos, mas da paixão com que se faz.
O Evangelho convida-nos a vencer a indolência, a omissão, o desânimo, que fazem cair a vida na esterilidade. Os dons de Deus não podem ser escondidos, fechados, ignorados, no mutismo do coração. Enterrar os talentos é o mesmo que cavar o próprio túmulo. Os talentos representam o amor de Deus semeado no coração das suas criaturas. Para ser servo bom e fiel basta deixar-se habitar pela loucura da fecundidade.
O verdadeiro talento que recebemos de Deus é o seu Filho, o Cristo vivo; nós somos co-responsáveis pelos frutos que Ele queira produzir em cada um. Basta para isso participar do entusiasmo apaixonado de Deus e empenhar-se para que os seus dons dêem mais frutos. Só assim, caros amigos e amigas, o Evangelho ganha vida.
VIVER A PALAVRA
Quero investir tudo o que tenho e sou no crescimento do Reino de Deus.
REZAR A PALAVRA
Senhor, partes de viagem e deixas em mim uma semente do Teu amor.
Preciso conhecê-la e abraçá-la como Tua herança.
Não me pertence e sei bem que só germina quando partilhada...
Ajuda-me a contemplar com gratidão o que me confias, a acolher a tua novidade sem medo.
Ajuda-me a arriscar a aventura, não a preguiça, a lançar teimosamente sementes de bem.
Ajuda-me a partilhar o que de Ti há em mim...e convidar-me-ás a entrar na Tua alegria...
Caras amigas e amigos, a parábola dos talentos é um hino à confiança e à criatividade de Deus que deposita em cada um de nós sementes de futuro para rentabilizarmos apaixonadamente esse tesouro.
Um mundo de talentos
Todos somos uma montanha de possibilidades, uma mão cheia de sementes prontas a florescer. Talvez seja mais fácil sublinhar os defeitos do que reconhecer os dons. Contudo, a parábola diz-nos que ninguém é sem talento. Cada um é dom e talento precioso de Deus para os outros que enriquece a vida. Assim, o esposo pode repetir à esposa, o irmão ao amigo, o pai ao filho: “és tu o meu talento”; “como talento recebi-te a ti”!
“Toma parte na alegria do teu patrão”
Confiando os talentos, o patrão deseja que os servos se tornem seus íntimos colaboradores, seus amigos, sua família. Os talentos são dons de comunhão, partilha da própria vida, participação da riqueza pessoal. Deus confia-nos a vida não como um peso e uma condenação, mas como um dom, uma graça, uma bênção, uma oportunidade, com o ónus da alegria e da responsabilidade, do sucesso e das suas canseiras.
Os dois primeiros servos tomam parte na alegria do patrão porque envolvidos na geração da vida, na partilha, entrega e dedicação. Já o terceiro servo, sem paixão pelo Reino, enterra a própria felicidade, esconde-se no anonimato e no medo, torna-se escravo apático em vez de amigo. Mas isso é muito pouco porque há uma vida que urge e que pede para crescer. Guardar, esconder, assegurar, é uma tarefa ingrata e inútil. O nosso papel é o da multiplicação de mais vida, imitando os gestos de Deus, numa espiral crescente de amor. Não somos latas de conserva com prazo de validade, mas servidores da força imensa e do fermento escondido dentro tudo o que vive.
Maravilhosa pedagogia divina
No fim, o patrão surpreende os servos e não quer de volta os talentos confiados, mas multiplica-os de novo. Não há uma restituição, mas um relançamento, um recomeço de mais amor e confiança. Não devemos restituir a Deus os seus dons, porque esses quando trabalhados tornam-se fermento, semente de outros dons, horizonte que se dilata, uma pedagogia da vida, um poema à criatividade. Não existimos para restituir a Deus os seus dons, mas vivemos para ser como Ele, com exuberância, doadores de luz e de vida. Deus tem uma infinita confiança em nós.
O julgamento não será então sobre a quantidade do ganho, mas sobre a qualidade do serviço, não sobre o número, mas sobre a verdade dos frutos. A felicidade não é filha da quantidade de talentos, mas da paixão com que se faz.
O Evangelho convida-nos a vencer a indolência, a omissão, o desânimo, que fazem cair a vida na esterilidade. Os dons de Deus não podem ser escondidos, fechados, ignorados, no mutismo do coração. Enterrar os talentos é o mesmo que cavar o próprio túmulo. Os talentos representam o amor de Deus semeado no coração das suas criaturas. Para ser servo bom e fiel basta deixar-se habitar pela loucura da fecundidade.
O verdadeiro talento que recebemos de Deus é o seu Filho, o Cristo vivo; nós somos co-responsáveis pelos frutos que Ele queira produzir em cada um. Basta para isso participar do entusiasmo apaixonado de Deus e empenhar-se para que os seus dons dêem mais frutos. Só assim, caros amigos e amigas, o Evangelho ganha vida.
VIVER A PALAVRA
Quero investir tudo o que tenho e sou no crescimento do Reino de Deus.
REZAR A PALAVRA
Senhor, partes de viagem e deixas em mim uma semente do Teu amor.
Preciso conhecê-la e abraçá-la como Tua herança.
Não me pertence e sei bem que só germina quando partilhada...
Ajuda-me a contemplar com gratidão o que me confias, a acolher a tua novidade sem medo.
Ajuda-me a arriscar a aventura, não a preguiça, a lançar teimosamente sementes de bem.
Ajuda-me a partilhar o que de Ti há em mim...e convidar-me-ás a entrar na Tua alegria...
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Carta Pastoral de D. José Cordeiro
D. José Cordeiro, Bispo de Bragança - Miranda dedicou a sua primeira Carta Pastoral à temática da formação inicial e permanente do Clero, tendo como pano de fundo "o Seminário como um laboratório de esperança para o presente do futuro", aproveitando a aproximação da Semana dos Seminários Diocesanos, que decorrerá entre 6 e 13 de Novembro, próximo. Neste documento endereçado aos "Presbíteros, aos Diáconos, às pessoas consagradas e a todos os fiéis leigos da Diocese de Bragança-Miranda, depois de apresentar uma breve análise da situação da Diocese, faz um convite à conversão e à esperança.A formação dos sacerdotes deve ter em conta as dimensões humana, espiritual, intelectual e pastoral, como já propunha a Exortação apostólica póssinodal, Pastores Dabo Vobis, de João Paulo II, publicada em 1992, a que D. José Cordeiro acrescenta a dimensão comunitária. Segundo o Bispo de Bragança-Miranda "estas cinco dimensões antropológico-teológicas da formação correspondem às exigências da identidade e missão dos presbíteros, tornando-se ainda mais necessárias no momento presente da história".Propõe então um itinerário para os 6 anos de formação do Seminário e conclui o documento com um ponto dedicado à formação do permanente do Clero sublinhando que "se a vida do padre não é formação permanente, toma-se frustração permanente. A formação é um processo global, progressivo e permanente".
XXXII DOMINGO COMUM A
Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a dez virgens,
que, tomando as suas lâmpadas, foram ao encontro do esposo. Cinco eram insensatas e cinco eram prudentes. As insensatas, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo, enquanto as prudentes, com as lâmpadas, levaram azeite nas almotolias. Como o esposo se demorava, começaram todas a dormitar e adormeceram. No meio da noite ouviu-se um brado: ‘Aí vem o esposo; ide ao seu encontro’. Então, as virgens levantaram-se todas e começaram a preparar as lâmpadas. As insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, que as nossas lâmpadas estão a apagar-se’. Mas as prudentes responderam: ‘Talvez não chegue para nós e para vós. Ide antes comprá-lo aos vendedores’. Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para o banquete nupcial; e a porta fechou-se. Mais tarde, chegaram também as outras virgens e disseram: ‘Senhor, senhor, abre-nos a porta’. Mas ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: Não vos conheço’. Portanto, vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora». (Mt 25, 1-13)
Caros amigos e amigas, a parábola de hoje não condena a insensatez ou a sonolência das jovens, mas avisa do perigo de uma vida vazia, que não se acendeu, que não se empenhou em conhecer o Noivo. O Reino dos céus pertence a quem sabe sair, ultrapassar noites e solidões, para viver de encontros, no encontro nupcial com Cristo.
“Dez virgens foram ao encontro do esposo”
O Reino dos céus é sempre um encontro de amor, umas núpcias. O Reino pertence a quem sabe sair de si, abate as distâncias e solidões, vive dando passos rumo ao outro, supera as noites, fura as escuridões, com as lâmpadas da alma acesas. Ser amigo do esposo é ser pessoa de encontros com aquela reserva de azeite que é a medida do amor, numa vigilância contínua, de olhar e coração aberto. Ser cristão é ser inventor de estradas que conduzem aos irmãos e que guiam a Deus.
“Tomando as suas lâmpadas”
O Reino dos céus é semelhante a dez pequenas centelhas na noite. Pequenas mas suficientes para um pequeno passo. Ser amigo do noivo, ser cristão, é ser centelha na noite do mundo, ser presença luminosa, exploradora da aurora. Quando chega o pessimismo, a desilusão, o cansaço, somos convidados a ser gente que sabe e ousa falar do dia que vem, do sol que está a nascer. Não somos especialistas das sombras ou gente que mede as trevas, o negativo, o escândalo. Mas somos, sobretudo, gente que se empenha em trazer aquela pequena luz, que é a centelha da fé. Mais, é ser testemunha da luz, é ser sentinela da esperança! A Igreja tem a vocação de manter acesa a luz da fé para iluminar a casa da humanidade.
Cinco das jovens não levaram azeite suficiente, a necessária reserva de amor e, então, a sua luz apaga-se. A sua presença dissolve-se na noite. Também a nossa vida ou é uma presença acesa, luminosa, iluminante, que sabe arder por algo ou alguém, ou está diluída em tantas escuridões. O risco do crente não é o de adormecer enquanto espera o seu Senhor, mas o de ter anestesiado a esperança.
“Aí vem o esposo”; ide ao seu encontro”
De imprevisto, no meio da noite, levanta-se um grito que acorda o amor. É o grito do Evangelho que anuncia a chegada do Noivo. É sempre Ele que vem ao nosso encontro, que nos visita enamorado, à procura e à espera de um amor nupcial.
Há sempre uma voz que nos acorda, um grito que tranquiliza, um sinal da sua presença. Não importa se adormecemos, se estamos cansados, se a espera é longa, se a fé parece definhar… há sempre uma voz que desperta para o banquete nupcial, para a intimidade e a comunhão. “Eu dormia, mas meu coração velava. Eis a voz do meu amado” (Cântico dos Cânticos). Até no sono, a minha alma vigia e o meu coração bate com a melodia da sua voz. Velar não é apenas permanecer sem adormecer, mas é prever, estar atento ao mais pequeno sinal que anuncie a chegada e mantém viva a esperança.
Nós, como as jovens prudentes e as insensatas, adormecemos facilmente. Contudo, o mais importante é acordar com a voz que grita no meio da nossa noite. Essa indica a vinda do Esposo, anima o coração, põe-nos novamente a caminhar e regenera a existência. Isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Quero estar atento aos sinais e preparar o meu coração para acolher a novidade do Reino.
REZAR A PALAVRA
Os meus momentos fluem num cortejo de insensatez e de prudência:
com esta indecisão de avançar, ameaçados pela rotina e pela incoerência;
com este toque da esperança, potenciados pela promessa do encontro...
Senhor Jesus, Esposo de todos os meus momentos, demoras ainda?
Reforça em mim a fé na tua vinda, ainda que a hora não fique marcada.
O tempo da tua demora é a oportunidade de embelezar a minha vida!
A tua hora imprevista é a meta que alvoroça todos os meus momentos.
Basta que não falte o azeite do meu amor a acender esta gozoza expectativa...
que, tomando as suas lâmpadas, foram ao encontro do esposo. Cinco eram insensatas e cinco eram prudentes. As insensatas, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo, enquanto as prudentes, com as lâmpadas, levaram azeite nas almotolias. Como o esposo se demorava, começaram todas a dormitar e adormeceram. No meio da noite ouviu-se um brado: ‘Aí vem o esposo; ide ao seu encontro’. Então, as virgens levantaram-se todas e começaram a preparar as lâmpadas. As insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, que as nossas lâmpadas estão a apagar-se’. Mas as prudentes responderam: ‘Talvez não chegue para nós e para vós. Ide antes comprá-lo aos vendedores’. Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para o banquete nupcial; e a porta fechou-se. Mais tarde, chegaram também as outras virgens e disseram: ‘Senhor, senhor, abre-nos a porta’. Mas ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: Não vos conheço’. Portanto, vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora». (Mt 25, 1-13)
Caros amigos e amigas, a parábola de hoje não condena a insensatez ou a sonolência das jovens, mas avisa do perigo de uma vida vazia, que não se acendeu, que não se empenhou em conhecer o Noivo. O Reino dos céus pertence a quem sabe sair, ultrapassar noites e solidões, para viver de encontros, no encontro nupcial com Cristo.
“Dez virgens foram ao encontro do esposo”
O Reino dos céus é sempre um encontro de amor, umas núpcias. O Reino pertence a quem sabe sair de si, abate as distâncias e solidões, vive dando passos rumo ao outro, supera as noites, fura as escuridões, com as lâmpadas da alma acesas. Ser amigo do esposo é ser pessoa de encontros com aquela reserva de azeite que é a medida do amor, numa vigilância contínua, de olhar e coração aberto. Ser cristão é ser inventor de estradas que conduzem aos irmãos e que guiam a Deus.
“Tomando as suas lâmpadas”
O Reino dos céus é semelhante a dez pequenas centelhas na noite. Pequenas mas suficientes para um pequeno passo. Ser amigo do noivo, ser cristão, é ser centelha na noite do mundo, ser presença luminosa, exploradora da aurora. Quando chega o pessimismo, a desilusão, o cansaço, somos convidados a ser gente que sabe e ousa falar do dia que vem, do sol que está a nascer. Não somos especialistas das sombras ou gente que mede as trevas, o negativo, o escândalo. Mas somos, sobretudo, gente que se empenha em trazer aquela pequena luz, que é a centelha da fé. Mais, é ser testemunha da luz, é ser sentinela da esperança! A Igreja tem a vocação de manter acesa a luz da fé para iluminar a casa da humanidade.
Cinco das jovens não levaram azeite suficiente, a necessária reserva de amor e, então, a sua luz apaga-se. A sua presença dissolve-se na noite. Também a nossa vida ou é uma presença acesa, luminosa, iluminante, que sabe arder por algo ou alguém, ou está diluída em tantas escuridões. O risco do crente não é o de adormecer enquanto espera o seu Senhor, mas o de ter anestesiado a esperança.
“Aí vem o esposo”; ide ao seu encontro”
De imprevisto, no meio da noite, levanta-se um grito que acorda o amor. É o grito do Evangelho que anuncia a chegada do Noivo. É sempre Ele que vem ao nosso encontro, que nos visita enamorado, à procura e à espera de um amor nupcial.
Há sempre uma voz que nos acorda, um grito que tranquiliza, um sinal da sua presença. Não importa se adormecemos, se estamos cansados, se a espera é longa, se a fé parece definhar… há sempre uma voz que desperta para o banquete nupcial, para a intimidade e a comunhão. “Eu dormia, mas meu coração velava. Eis a voz do meu amado” (Cântico dos Cânticos). Até no sono, a minha alma vigia e o meu coração bate com a melodia da sua voz. Velar não é apenas permanecer sem adormecer, mas é prever, estar atento ao mais pequeno sinal que anuncie a chegada e mantém viva a esperança.
Nós, como as jovens prudentes e as insensatas, adormecemos facilmente. Contudo, o mais importante é acordar com a voz que grita no meio da nossa noite. Essa indica a vinda do Esposo, anima o coração, põe-nos novamente a caminhar e regenera a existência. Isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Quero estar atento aos sinais e preparar o meu coração para acolher a novidade do Reino.
REZAR A PALAVRA
Os meus momentos fluem num cortejo de insensatez e de prudência:
com esta indecisão de avançar, ameaçados pela rotina e pela incoerência;
com este toque da esperança, potenciados pela promessa do encontro...
Senhor Jesus, Esposo de todos os meus momentos, demoras ainda?
Reforça em mim a fé na tua vinda, ainda que a hora não fique marcada.
O tempo da tua demora é a oportunidade de embelezar a minha vida!
A tua hora imprevista é a meta que alvoroça todos os meus momentos.
Basta que não falte o azeite do meu amor a acender esta gozoza expectativa...
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
XXXI DOMINGO COMUM A
Naquele tempo Jesus falou à multidão e aos discípulos, dizendo: «Na cadeira de Moisés sentaram-se os escribas e os fariseus. Fazei e observai tudo quanto vos disserem, mas não imiteis as suas obras, porque eles dizem e não fazem. Atam fardos pesados e põem-nos aos ombros dos homens, mas eles nem com o dedo os querem mover. Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens: alargam os filactérios e ampliam as borlas; gostam do primeiro lugar nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, das saudações nas praças públicas e que os tratem por ‘Mestres’. Vós, porém, não vos deixeis tratar por ‘Mestres’, porque um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos. Na terra não chameis a ninguém vosso ‘Pai’, porque um só é o vosso pai, o Pai celeste. Nem vos deixeis tratar por ‘Doutores’, porque um só é o vosso doutor, o Messias. Aquele que for o maior entre vós será o vosso servo. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado». (Mt 23, 1-12)
Caros amigos e amigas, torna-se tão fácil servirmo-nos de Deus, a pretexto de O servir! Contudo, Jesus traz-nos de volta ao regaço de Deus, aconchegando-nos aos irmãos.
“Eles dizem e não fazem”
Ressoam-me dentro estas palavras de fogo. Todos nós somos, num certo modo, “funcionários de Deus” ou “profissionais do sagrado”. Também nós sofremos da comodidade do fácil dizer e do nada fazer, alargando a infinita distância entre aquilo que se afirma e a própria vida. Ninguém está imune a esta incoerência e até S. Paulo alertava: “não faço o bem que quero, mas o mal que não quero”. Como os escribas e fariseus, somos especialistas da lei de Deus, burocratas de normas que impomos pesadamente aos outros, mas analfabetos do coração, ignorantes da vida.
Por outro lado, é mais fácil denunciar, lamentar-se da crise, berrar contra as injustiças, propor receitas fáceis… Agir é aborrecido e incómodo. Até para mim é mais fácil digitar umas palavras no computador, imprimi-las em papel, que talvez alguém terá prazer em ler, mas que tantas vezes não se imprimem na vida. Deixar-se guiar pela Palavra de Deus são contas de outro rosário. A auto-estrada das aparências é mais cómoda do que os caminhos concretos do dia-a-dia.
“Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos”
Contudo, enquanto nos descobrimos frágeis, incoerentes e pecadores, é-nos oferecido uma certeza: temos um só Pai, temos um único Mestre que nos guia e somos todos irmãos. Deus não é o patrão dos patrões, mas é o servo que em Jesus se ajoelha aos pés dos discípulos. Ele não é apenas o Senhor da vida, mas é o Servo de cada vida. Enquanto, os grandes desta terra fazem tronos, Deus cinge-se de uma toalha e deseja curar todas as feridas da terra. O Pai nunca exige nem obriga, mas cuida e ampara. Ele não reivindica direitos, mas responde às necessidades. O Pai revela-se nos filhos, o Mestre faz-se servo, o Cristo faz-se irmão, e como irmão torna-se o último. É este o estilo de Deus: pode quem serve; ganha quem se perde pelo outro; conquista quem ama. E nenhum amor é mestre a não ser Aquele que é o próprio Amor!
“Quem se exalta será humilhado e que se humilha será exaltado”
Este é o mundo novo, sempre sonhado por Deus, um mundo em que o maior é aquele que serve, sem títulos nem méritos, até à folia da cruz. Esta é a estrada em contramão escolhida por Cristo. Por isso, a repreensão que faz não é contra a nossa fraqueza, contra a distância entre o dizer e o fazer, mas contra os exibicionismos estéreis e o afirmar das aparências em vez de salientar o essencial. A dureza de Jesus é contra a hipocrisia, a vaidade, o poder. Ninguém é perfeito como Deus é perfeito, mas podemos caminhar rumo ao ideal com lealdade, com infinita paciência em recomeçar, com a coragem de repartir após cada queda.
Aos discípulos do Nazareno é pedido apenas uma vida centrada no único Mestre, nas suas palavras e acções, em segui-Lo com uma atitude madura, com uma paixão firme, com a verdade do coração, sem delegar nos outros as escolhas que dão sentido à vida, na descoberta de um Deus que é Pai. Isso, caros irmãos e irmãs, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Quero repousar na serenidade de saber que só Deus é Deus.
REZAR A PALAVRA
Pai, acolhe o meu silêncio
Que preparo como terra fértil para a semente da Tua humildade.
Ajuda-me a descobrir a valentia do serviço,
a riqueza da generosidade, a grandiosidade do altruísmo,
o desafio do abandono e a pureza do desprendimento.
Desejo imitar o teu coração manso e humilde,
atento e serviçal, justo e agradecido.
Eis o Teu servo, Senhor! Faça-se em mim...
Caros amigos e amigas, torna-se tão fácil servirmo-nos de Deus, a pretexto de O servir! Contudo, Jesus traz-nos de volta ao regaço de Deus, aconchegando-nos aos irmãos.
“Eles dizem e não fazem”
Ressoam-me dentro estas palavras de fogo. Todos nós somos, num certo modo, “funcionários de Deus” ou “profissionais do sagrado”. Também nós sofremos da comodidade do fácil dizer e do nada fazer, alargando a infinita distância entre aquilo que se afirma e a própria vida. Ninguém está imune a esta incoerência e até S. Paulo alertava: “não faço o bem que quero, mas o mal que não quero”. Como os escribas e fariseus, somos especialistas da lei de Deus, burocratas de normas que impomos pesadamente aos outros, mas analfabetos do coração, ignorantes da vida.
Por outro lado, é mais fácil denunciar, lamentar-se da crise, berrar contra as injustiças, propor receitas fáceis… Agir é aborrecido e incómodo. Até para mim é mais fácil digitar umas palavras no computador, imprimi-las em papel, que talvez alguém terá prazer em ler, mas que tantas vezes não se imprimem na vida. Deixar-se guiar pela Palavra de Deus são contas de outro rosário. A auto-estrada das aparências é mais cómoda do que os caminhos concretos do dia-a-dia.
“Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos”
Contudo, enquanto nos descobrimos frágeis, incoerentes e pecadores, é-nos oferecido uma certeza: temos um só Pai, temos um único Mestre que nos guia e somos todos irmãos. Deus não é o patrão dos patrões, mas é o servo que em Jesus se ajoelha aos pés dos discípulos. Ele não é apenas o Senhor da vida, mas é o Servo de cada vida. Enquanto, os grandes desta terra fazem tronos, Deus cinge-se de uma toalha e deseja curar todas as feridas da terra. O Pai nunca exige nem obriga, mas cuida e ampara. Ele não reivindica direitos, mas responde às necessidades. O Pai revela-se nos filhos, o Mestre faz-se servo, o Cristo faz-se irmão, e como irmão torna-se o último. É este o estilo de Deus: pode quem serve; ganha quem se perde pelo outro; conquista quem ama. E nenhum amor é mestre a não ser Aquele que é o próprio Amor!
“Quem se exalta será humilhado e que se humilha será exaltado”
Este é o mundo novo, sempre sonhado por Deus, um mundo em que o maior é aquele que serve, sem títulos nem méritos, até à folia da cruz. Esta é a estrada em contramão escolhida por Cristo. Por isso, a repreensão que faz não é contra a nossa fraqueza, contra a distância entre o dizer e o fazer, mas contra os exibicionismos estéreis e o afirmar das aparências em vez de salientar o essencial. A dureza de Jesus é contra a hipocrisia, a vaidade, o poder. Ninguém é perfeito como Deus é perfeito, mas podemos caminhar rumo ao ideal com lealdade, com infinita paciência em recomeçar, com a coragem de repartir após cada queda.
Aos discípulos do Nazareno é pedido apenas uma vida centrada no único Mestre, nas suas palavras e acções, em segui-Lo com uma atitude madura, com uma paixão firme, com a verdade do coração, sem delegar nos outros as escolhas que dão sentido à vida, na descoberta de um Deus que é Pai. Isso, caros irmãos e irmãs, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Quero repousar na serenidade de saber que só Deus é Deus.
REZAR A PALAVRA
Pai, acolhe o meu silêncio
Que preparo como terra fértil para a semente da Tua humildade.
Ajuda-me a descobrir a valentia do serviço,
a riqueza da generosidade, a grandiosidade do altruísmo,
o desafio do abandono e a pureza do desprendimento.
Desejo imitar o teu coração manso e humilde,
atento e serviçal, justo e agradecido.
Eis o Teu servo, Senhor! Faça-se em mim...
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
domingo, 23 de outubro de 2011
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
XXX DOMINGO COMUM A
Naquele tempo os fariseus, ouvindo dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus, reuniram-se em grupo, e um doutor da Lei perguntou a Jesus, para O experimentar: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». Jesus respondeu: «‘Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas». (Mt 22, 34-40)
Caros amigos e amigas, hoje, o evangelho fala-nos de uma realidade simples mas essencial: o amor. Acerca do amor sobra literatura, teorias e sentido. Jesus fala com a experiência do maior amor: dar a vida.
“Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?”
Devemos agradecer ao Doutor da Lei que, mesmo querendo pôr à prova o Mestre, lhe fez uma pergunta fundamental: “qual é a coisa mais importante da vida?” poder-se-ia traduzir hoje. Ao que Jesus responde com o DNA divino que é também o essencial do peregrinar humano.
“Amarás a Deus… e amarás ao próximo”
Um amor nunca subtrai outro amor, porque o nosso coração funciona a várias vozes: o amor a Deus é a melodia principal, à volta do qual se podem cantar outros amores. Assim nasce a polifonia da existência (Bonhoffer).
A revolução de Jesus é afirmar que amar o próximo é semelhante a amar Deus: mesmo que amemos a Deus com todo o coração, ainda há espaço no coração para o marido, a esposa, o filho, o amigo, o próximo e, para os verdadeiros discípulos, até os inimigos. Deus não rouba o coração! Multiplica-o! Amar Deus não significa amar apenas a Deus, mas amá-lo sem mediocridade, sem cálculos nem traições. De facto, “quem não ama o irmão que vê, não pode amar a Deus que não vê” dirá o apóstolo João. O próximo tem um corpo, uma voz, um coração “semelhante” a Deus.
A novidade do cristianismo não é então o amor, porque tantos não declaradamente cristãos assim já fazem, mas é o amor como o de Cristo. As pessoas amam, mas o cristão ama do mesmo jeito de Cristo. O amor é Ele, quando lava os pés aos discípulos, quando chora pelo amigo morto, quando exulta com o perfume de Maria, quando se dirige ao traidor chamando-o amigo, quando reza por aqueles que o crucificam, quando se abeira dos desesperados de Emaús… “Amai-vos como eu vos amei”! Não quanto, mas como; não a quantidade, mas o estilo e a profundidade! Talvez seja impossível amar como Jesus, mas é possível seguir-lhe as pegadas, apanhar-lhe o gosto, receber as migalhas de sal e de luz para fermentar cada dia, com aquela medida desmedida, aquele excesso de abundância, que não rouba o coração mas que o amplifica, o aumenta, o expande até ao infinito.
“Amarás com todo o coração, com toda a alma, com todo o espírito”
Por três vezes Jesus repete o apelo à totalidade, quase ao impossível! Porque só Deus ama com todo o coração, Ele que é o próprio Amor. Um amor que não aspire ao horizonte máximo está minado à partida, traz em si um vírus, qual sanguessuga que rouba a alma e a vida.
Parece impossível mas toda a nossa vida cabe num verbo: “amarás”! É um verbo apresentado por Cristo não como uma obrigação, um seco imperativo, mas conjugado no futuro, porque o amor é uma acção nunca concluída, que durará para sempre, mesmo além da morte. Também porque o amor é um projecto, melhor, o único projecto, o único mandamento! E dentro dele está toda a paciência de Deus. É um futuro que aponta estradas e indica uma esperança: só o amor, caros amigos e amigas, é Evangelho!
Caros amigos e amigas, hoje, o evangelho fala-nos de uma realidade simples mas essencial: o amor. Acerca do amor sobra literatura, teorias e sentido. Jesus fala com a experiência do maior amor: dar a vida.
“Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?”
Devemos agradecer ao Doutor da Lei que, mesmo querendo pôr à prova o Mestre, lhe fez uma pergunta fundamental: “qual é a coisa mais importante da vida?” poder-se-ia traduzir hoje. Ao que Jesus responde com o DNA divino que é também o essencial do peregrinar humano.
“Amarás a Deus… e amarás ao próximo”
Um amor nunca subtrai outro amor, porque o nosso coração funciona a várias vozes: o amor a Deus é a melodia principal, à volta do qual se podem cantar outros amores. Assim nasce a polifonia da existência (Bonhoffer).
A revolução de Jesus é afirmar que amar o próximo é semelhante a amar Deus: mesmo que amemos a Deus com todo o coração, ainda há espaço no coração para o marido, a esposa, o filho, o amigo, o próximo e, para os verdadeiros discípulos, até os inimigos. Deus não rouba o coração! Multiplica-o! Amar Deus não significa amar apenas a Deus, mas amá-lo sem mediocridade, sem cálculos nem traições. De facto, “quem não ama o irmão que vê, não pode amar a Deus que não vê” dirá o apóstolo João. O próximo tem um corpo, uma voz, um coração “semelhante” a Deus.
A novidade do cristianismo não é então o amor, porque tantos não declaradamente cristãos assim já fazem, mas é o amor como o de Cristo. As pessoas amam, mas o cristão ama do mesmo jeito de Cristo. O amor é Ele, quando lava os pés aos discípulos, quando chora pelo amigo morto, quando exulta com o perfume de Maria, quando se dirige ao traidor chamando-o amigo, quando reza por aqueles que o crucificam, quando se abeira dos desesperados de Emaús… “Amai-vos como eu vos amei”! Não quanto, mas como; não a quantidade, mas o estilo e a profundidade! Talvez seja impossível amar como Jesus, mas é possível seguir-lhe as pegadas, apanhar-lhe o gosto, receber as migalhas de sal e de luz para fermentar cada dia, com aquela medida desmedida, aquele excesso de abundância, que não rouba o coração mas que o amplifica, o aumenta, o expande até ao infinito.
“Amarás com todo o coração, com toda a alma, com todo o espírito”
Por três vezes Jesus repete o apelo à totalidade, quase ao impossível! Porque só Deus ama com todo o coração, Ele que é o próprio Amor. Um amor que não aspire ao horizonte máximo está minado à partida, traz em si um vírus, qual sanguessuga que rouba a alma e a vida.
Parece impossível mas toda a nossa vida cabe num verbo: “amarás”! É um verbo apresentado por Cristo não como uma obrigação, um seco imperativo, mas conjugado no futuro, porque o amor é uma acção nunca concluída, que durará para sempre, mesmo além da morte. Também porque o amor é um projecto, melhor, o único projecto, o único mandamento! E dentro dele está toda a paciência de Deus. É um futuro que aponta estradas e indica uma esperança: só o amor, caros amigos e amigas, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Deixarei pautar a minha vida pelo amor incondicional a Deus e aos irmãos.
REZAR A PALAVRA
Como és grande, Senhor, como é totalizante o teu dom!
O teu amor enche toda a medida do meu coração retalhado,
a tua bondade acaricia todo o desejo da minha alma sedenta
a tua sapiência cobre toda a lacuna do meu espírito inquieto!
Senhor, quero experimentar-te na plenitude do teu dom;
quero prescindir de abrir-te frinchas e franquear-te a minha inteireza.
Ante a desarrumação dos meus cálculos dás-me a fórmula da minha síntese:
todo o coração, toda a alma, todo o espírito. Que tudo seja teu, através dos irmãos!
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
XXIX DOMINGO COMUM A
Naquele tempo os fariseus reuniram-se para deliberar sobre a maneira de surpreender Jesus no que dissesse. Enviaram-Lhe alguns dos seus discípulos, juntamente com os herodianos, e disseram-Lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas, segundo a verdade, o caminho de Deus, sem Te deixares influenciar por ninguém, pois não fazes acepção de pessoas. Diz-nos o teu parecer: É lícito ou não pagar tributo a César?». Jesus, conhecendo a sua malícia, respondeu: «Porque Me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo». Eles apresentaram-Lhe um denário, e Jesus perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». Eles responderam: «De César». Disse-lhes Jesus: «Então, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». (Mt 22, 15-21)
Caros amigos e amigas, hoje Mateus narra um diálogo entre Jesus e os fariseus que ficou famoso e proverbial: “a cada um o seu” comenta a sabedoria popular. Contudo, a profundidade da resposta Jesus ultrapassa a pergunta: não há comparação entre o débito aos “Césares” de hoje e o próprio Deus.
“É lícito pagar tributo a César ou não?
A pergunta matreira colocada pelos fariseus a Jesus é genial! É uma bela maçã envenenada. Num país ocupado por um invasor, a humilhação de pagar taxas ao imperador era insustentável. Se Jesus respondesse “sim, é lícito” seria considerado um traidor do seu povo e amigo do imperador romano que se identificava sendo Deus. Se respondesse que “não” seria culpado diante dos romanos, julgado e condenado. Numa ou noutra resposta Jesus estava encurralado. Mas sem papas na língua, sem ser abstracto ou filosófico, como nós faríamos em seu lugar, Jesus alarga a pergunta. Através de uma simples moeda, daquilo que se possui, o homem, tantas vezes hipócrita, é conduzido a uma resposta diferente.
“Dai a César… Dai a Deus…”
Pode parecer que Jesus diz “dá 50% a César e 50% a Deus, reparte por igual”. Mas, se estivermos atentos Jesus muda o verbo “pagar” no verbo “dar/devolver”. E usa um imperativo, como se fosse uma ordem, sem se referir a uma moeda, ou a um imperador ou a um imposto específico. Para o Mestre “dar” é uma atitude total: devolvei, dai de volta, restituí a César e a Deus, porque nada daquilo que tendes é verdadeiramente vosso! Na verdade, de nada somos donos ou senhores, porque tudo é dom, tudo é graça. A única atitude do horizonte cristão é o de devolver, dar, doar-se, infinitamente e incondicionalmente.
Estamos em débito para com Deus e os outros, pais e amigos, história, cultura, trabalho, educação. Mesmo no pão quotidiano está gravada a história de inumeráveis mãos e corações. A nossa vida é um tecido de débitos, um rosário de dádivas gratuitas. E há tanto amor a restituir, tanta instrução, amizade, esperança a devolver! A vida é, num encontro aberto, a síntese de duas alianças e dois amores, de dádivas e de débitos. E foi no alto da cruz que a reposta foi cunhada com a vida, assinada com o sangue.
Tributos de hoje
Na verdade é mais fácil cumprir com César do que com Deus. A relação com os “Césares” fica-se apenas numa relação exterior. No caso concreto, retribuído o imposto a César fica tudo resolvido. Não é necessária uma afinidade. Dar a César não nos relaciona com César. Mas, dar a Deus o que é de Deus implica uma relação directa que não acaba com a entrega de um tributo. Alguns crêem que Deus se contenta com exterioridades, esmolas e velas. Mas Ele deseja uma relação filial, como com o seu Filho Jesus, num diálogo, numa presença e numa partilha de vida.
Então que devolver a Deus? Bom, se César espera a moeda, Deus espera a pessoa, com todo o seu coração, a sua mente e as suas forças. Se a imagem de César está na moeda, a imagem de Deus está em nós. Para devolver só tenho a minha vida, fazendo brilhar a sua imagem gravada no coração, realizada como pessoa. Devolver a Deus é dizer que nós somos Dele e a Ele pertencemos!
“Dar a Deus” é não inscrever no coração atributos que não sejam de Deus. É descobrir a marca original do seu mistério, a grafia do milagre, a impressão digital do dedo criador, que em Jesus se fez visível. Só Ele, caros amigos e amigas, é Evangelho.
VIVER A PALAVRA
Quero subordinar todas as minhas motivações ao bem absoluto que é Deus!
REZAR A PALAVRA
Que queres de mim, Senhor? Que te poderei dar?
Trago nas mãos o pó da história e da rotina...
Carrego no corpo a cruz do abandono e do seguir...
E procuro a razão de amar como tu, na novidade e sem medida(s).
Desejo apenas surpreender-Te com o amor feito gesto,
O sorriso feito abraço incondicional,
E um olhar atento à tua medida, sem medida, de amor...
Caros amigos e amigas, hoje Mateus narra um diálogo entre Jesus e os fariseus que ficou famoso e proverbial: “a cada um o seu” comenta a sabedoria popular. Contudo, a profundidade da resposta Jesus ultrapassa a pergunta: não há comparação entre o débito aos “Césares” de hoje e o próprio Deus.
“É lícito pagar tributo a César ou não?
A pergunta matreira colocada pelos fariseus a Jesus é genial! É uma bela maçã envenenada. Num país ocupado por um invasor, a humilhação de pagar taxas ao imperador era insustentável. Se Jesus respondesse “sim, é lícito” seria considerado um traidor do seu povo e amigo do imperador romano que se identificava sendo Deus. Se respondesse que “não” seria culpado diante dos romanos, julgado e condenado. Numa ou noutra resposta Jesus estava encurralado. Mas sem papas na língua, sem ser abstracto ou filosófico, como nós faríamos em seu lugar, Jesus alarga a pergunta. Através de uma simples moeda, daquilo que se possui, o homem, tantas vezes hipócrita, é conduzido a uma resposta diferente.
“Dai a César… Dai a Deus…”
Pode parecer que Jesus diz “dá 50% a César e 50% a Deus, reparte por igual”. Mas, se estivermos atentos Jesus muda o verbo “pagar” no verbo “dar/devolver”. E usa um imperativo, como se fosse uma ordem, sem se referir a uma moeda, ou a um imperador ou a um imposto específico. Para o Mestre “dar” é uma atitude total: devolvei, dai de volta, restituí a César e a Deus, porque nada daquilo que tendes é verdadeiramente vosso! Na verdade, de nada somos donos ou senhores, porque tudo é dom, tudo é graça. A única atitude do horizonte cristão é o de devolver, dar, doar-se, infinitamente e incondicionalmente.
Estamos em débito para com Deus e os outros, pais e amigos, história, cultura, trabalho, educação. Mesmo no pão quotidiano está gravada a história de inumeráveis mãos e corações. A nossa vida é um tecido de débitos, um rosário de dádivas gratuitas. E há tanto amor a restituir, tanta instrução, amizade, esperança a devolver! A vida é, num encontro aberto, a síntese de duas alianças e dois amores, de dádivas e de débitos. E foi no alto da cruz que a reposta foi cunhada com a vida, assinada com o sangue.
Tributos de hoje
Na verdade é mais fácil cumprir com César do que com Deus. A relação com os “Césares” fica-se apenas numa relação exterior. No caso concreto, retribuído o imposto a César fica tudo resolvido. Não é necessária uma afinidade. Dar a César não nos relaciona com César. Mas, dar a Deus o que é de Deus implica uma relação directa que não acaba com a entrega de um tributo. Alguns crêem que Deus se contenta com exterioridades, esmolas e velas. Mas Ele deseja uma relação filial, como com o seu Filho Jesus, num diálogo, numa presença e numa partilha de vida.
Então que devolver a Deus? Bom, se César espera a moeda, Deus espera a pessoa, com todo o seu coração, a sua mente e as suas forças. Se a imagem de César está na moeda, a imagem de Deus está em nós. Para devolver só tenho a minha vida, fazendo brilhar a sua imagem gravada no coração, realizada como pessoa. Devolver a Deus é dizer que nós somos Dele e a Ele pertencemos!
“Dar a Deus” é não inscrever no coração atributos que não sejam de Deus. É descobrir a marca original do seu mistério, a grafia do milagre, a impressão digital do dedo criador, que em Jesus se fez visível. Só Ele, caros amigos e amigas, é Evangelho.
VIVER A PALAVRA
Quero subordinar todas as minhas motivações ao bem absoluto que é Deus!
REZAR A PALAVRA
Que queres de mim, Senhor? Que te poderei dar?
Trago nas mãos o pó da história e da rotina...
Carrego no corpo a cruz do abandono e do seguir...
E procuro a razão de amar como tu, na novidade e sem medida(s).
Desejo apenas surpreender-Te com o amor feito gesto,
O sorriso feito abraço incondicional,
E um olhar atento à tua medida, sem medida, de amor...
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
XXVIII DOMINGO COMUM A
Naquele tempo Jesus dirigiu-Se de novo aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo e, falando em parábolas, disse-lhes: «O reino dos Céus pode comparar-se a um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. Mandou os servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram vir. Mandou ainda outros servos, ordenando-lhes: ‘Dizei aos convidados: Preparei o meu banquete, os bois e os cevados foram abatidos, tudo está pronto. Vinde às bodas’. Mas eles, sem fazerem caso, foram um para o seu campo e outro para o seu negócio; os outros apoderaram-se dos servos, trataram-nos mal e mataram-nos. O rei ficou muito indignado e enviou os seus exércitos, que acabaram com aqueles assassinos e incendiaram a cidade. Disse então aos servos: ‘O banquete está pronto, mas os convidados não eram dignos. Ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas todos os que encontrardes’. Então os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala do banquete encheu-se de convidados. O rei, quando entrou para ver os convidados, viu um homem que não estava vestido com o traje nupcial. e disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’. Mas ele ficou calado. O rei disse então aos servos: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o às trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes’. Na verdade, muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos». (Mt 22, 1-14)
Caras amigas e amigos, Mateus oferece-nos mais uma página extraordinária e desconcertante que revela o sonho de Deus e a fragilidade do homem. Ocorre converter a fé triste para descobrir a beleza e a alegria de ser povo de Deus.
“Vinde às bodas”
Tudo começa com um dom, um convite, uma oferta. No princípio não está uma obrigação, uma proibição, um lamento, nem está primeiro aquilo que posso fazer por Deus, mas aquilo que Deus faz por mim. Ele convida a humanidade para umas núpcias, à festa do prazer de viver, à convivialidade, à fecundidade da alegria. O encontro com Deus é sempre banquete, júbilo, dança, sorriso, beleza. Ele prepara um banquete para todos os povos. E preparar uma refeição para alguém significa amá-lo, significa dizer-lhe: “quero que tu vivas”! Até parece que Deus não pode ficar sozinho e por isso anda num êxodo permanente à nossa procura.
Desculpas de ontem e de hoje
O drama de Deus é encontrar a sala vazia, a orquestra sem música, os copos sem vinho. É um Deus de pão e de festa, mas de uma palavra que ninguém escuta, impotente perante o nosso coração anestesiado. Contudo, o seu sonho é a sala cheia de comensais e de vida. Por isso não se desencoraja e regressa com entusiasmo e decisão às ruas e aos cruzamentos da vida. E se para nós a rejeição é um obstáculo, para Ele é motivo para alargar o convite e dilatar o sonho. Deus nunca capitula e, se as casas se fecham, Ele então abre estradas, acrescenta nomes à lista dos convidados, inventa novas comunhões. Não precisa de servidores constrangidos, mas de quem o deixe ser servidor da vida.
Nós pensamos que só há lugar para os bons, os puros, os beatos, mas ficaremos admirados quando virmos que o paraíso não está cheio de santos, mas de pecadores perdoados, de gente como nós. Ocuparão os lugares os Zaqueus, os Mateus, as Marias Madalenas, os cegos de Siloé, os paralíticos de Cafarnaum, os samaritanos e as adúlteras perdoadas. Deus festejará com todos, bons e maus, as bodas do seu Filho com a humanidade. Se a humanidade soubesse a ambição que Deus nela deposita a festa não teria fim. Porque Deus não se merece, acolhe-se.
Revestir-se de Cristo
Tantas vezes, pensamos e vivemos a fé como se de um funeral se tratasse. É urgente passar de uma fé crucificada para uma fé ressuscitada.
O homem sem a veste nupcial talvez não acreditasse que seria possível sentar-se à mesa do festim do rei e, por isso, não trouxe o seu contributo de beleza nem a prenda da sua alegria. Participar da festa e do júbilo de Deus sem estar envolvido no seu Espírito é como estar num casamento em fato de banho ou na praia em vestido de noiva.
O traje a meter é Jesus Cristo; é Ele a alegria da festa da vida. Revestir-se dos seus sentimentos, adornar-se dos seus gestos, embelezar-se com as suas palavras, perfumar-se com o seu Espírito, cobrir-se com a sua presença é, caros amigos e amigas, o Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Quero arquitectar um coração disponível, para acolher o convite do Senhor.
REZAR A PALAVRA
Divino anfitrião do banquete do amor e da vida...
Volta a convidar a minha insensibilidade, sem fome do teu Nome,
volta a aliciar o meu paladar, poluído por enredos sem sutento,
volta a falar-me ao coração, para desposar o meu tempo distraído,
volta a preparar-me a casa com o manjar exorbitante do teu amor,
costura as minhas hesitações, com o traje da tua Verdade e veste-me...
de autenticidade, de festa, de ardor... perante Ti, Senhor da minha vida, quero viver!
Caras amigas e amigos, Mateus oferece-nos mais uma página extraordinária e desconcertante que revela o sonho de Deus e a fragilidade do homem. Ocorre converter a fé triste para descobrir a beleza e a alegria de ser povo de Deus.
“Vinde às bodas”
Tudo começa com um dom, um convite, uma oferta. No princípio não está uma obrigação, uma proibição, um lamento, nem está primeiro aquilo que posso fazer por Deus, mas aquilo que Deus faz por mim. Ele convida a humanidade para umas núpcias, à festa do prazer de viver, à convivialidade, à fecundidade da alegria. O encontro com Deus é sempre banquete, júbilo, dança, sorriso, beleza. Ele prepara um banquete para todos os povos. E preparar uma refeição para alguém significa amá-lo, significa dizer-lhe: “quero que tu vivas”! Até parece que Deus não pode ficar sozinho e por isso anda num êxodo permanente à nossa procura.
Desculpas de ontem e de hoje
O drama de Deus é encontrar a sala vazia, a orquestra sem música, os copos sem vinho. É um Deus de pão e de festa, mas de uma palavra que ninguém escuta, impotente perante o nosso coração anestesiado. Contudo, o seu sonho é a sala cheia de comensais e de vida. Por isso não se desencoraja e regressa com entusiasmo e decisão às ruas e aos cruzamentos da vida. E se para nós a rejeição é um obstáculo, para Ele é motivo para alargar o convite e dilatar o sonho. Deus nunca capitula e, se as casas se fecham, Ele então abre estradas, acrescenta nomes à lista dos convidados, inventa novas comunhões. Não precisa de servidores constrangidos, mas de quem o deixe ser servidor da vida.
Nós pensamos que só há lugar para os bons, os puros, os beatos, mas ficaremos admirados quando virmos que o paraíso não está cheio de santos, mas de pecadores perdoados, de gente como nós. Ocuparão os lugares os Zaqueus, os Mateus, as Marias Madalenas, os cegos de Siloé, os paralíticos de Cafarnaum, os samaritanos e as adúlteras perdoadas. Deus festejará com todos, bons e maus, as bodas do seu Filho com a humanidade. Se a humanidade soubesse a ambição que Deus nela deposita a festa não teria fim. Porque Deus não se merece, acolhe-se.
Revestir-se de Cristo
Tantas vezes, pensamos e vivemos a fé como se de um funeral se tratasse. É urgente passar de uma fé crucificada para uma fé ressuscitada.
O homem sem a veste nupcial talvez não acreditasse que seria possível sentar-se à mesa do festim do rei e, por isso, não trouxe o seu contributo de beleza nem a prenda da sua alegria. Participar da festa e do júbilo de Deus sem estar envolvido no seu Espírito é como estar num casamento em fato de banho ou na praia em vestido de noiva.
O traje a meter é Jesus Cristo; é Ele a alegria da festa da vida. Revestir-se dos seus sentimentos, adornar-se dos seus gestos, embelezar-se com as suas palavras, perfumar-se com o seu Espírito, cobrir-se com a sua presença é, caros amigos e amigas, o Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Quero arquitectar um coração disponível, para acolher o convite do Senhor.
REZAR A PALAVRA
Divino anfitrião do banquete do amor e da vida...
Volta a convidar a minha insensibilidade, sem fome do teu Nome,
volta a aliciar o meu paladar, poluído por enredos sem sutento,
volta a falar-me ao coração, para desposar o meu tempo distraído,
volta a preparar-me a casa com o manjar exorbitante do teu amor,
costura as minhas hesitações, com o traje da tua Verdade e veste-me...
de autenticidade, de festa, de ardor... perante Ti, Senhor da minha vida, quero viver!
domingo, 2 de outubro de 2011
XXVII DOMINGO COMUM A
Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Ouvi outra parábola: Havia um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar e levantou uma torre; depois, arrendou-a a uns vinhateiros e partiu para longe. Quando chegou a época das colheitas, mandou os seus servos aos vinhateiros para receber os frutos. Os vinhateiros, porém, lançando mão dos servos, espancaram um, mataram outro, e a outro apedrejaram-no. Tornou ele a mandar outros servos, em maior número que os primeiros. E eles trataram-nos do mesmo modo. Por fim, mandou-lhes o seu próprio filho, dizendo: ‘Respeitarão o meu filho’. Mas os vinhateiros, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro; matemo-lo e ficaremos com a sua herança’. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no. Quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?». Eles responderam: «Mandará matar sem piedade esses malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entreguem os frutos a seu tempo». Disse-lhes Jesus: «Nunca lestes na Escritura: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; tudo isto veio do Senhor e é admirável aos nossos olhos’? Por isso vos digo: Ser-vos-á tirado o reino de Deus e dado a um povo que produza os seus frutos». (mT 21, 33-43)
Caros amigos e amigas, a parábola trágica de hoje narra a história de um amor sem confins que não teme a ingratidão e o não acolhimento dos homens. Mesmo a maior traição é incapaz de parar o plano de Deus: a vinha dará fruto e Deus não desperdiçará a sua eternidade em vinganças.
“Havia um proprietário que plantou uma vinha…”
É assim que começa a história perene de um amor, a nobreza de alma do patrão, o cuidado apaixonado com que planta a vinha, o abraço com que a cerca, a fonte que nela faz jorrar. Todavia, começa também assim a história de uma traição, de uma violência estúpida de quem pensa apoderar-se da herança matando o herdeiro. Esta é a história de um Deus apaixonado e a história da humanidade com as suas infidelidades.
Somos nós o campo da predilecção de Deus, a vinha amada de mil cuidados e atenções. Mas também somos a sua desilusão quando nos fechamos na infertilidade do nosso terreno. E, no entanto, a parábola diz que Deus nos ama com um amor que nenhuma desilusão poderá apagar: Ele nada gasta em vinganças! O seu Reino é uma casa nova cuja pedra angular é Cristo, uma vinha cuja verdadeira vide é Cristo. Esta é a folia de Deus: dar-nos um lugar, um encontro, um tempo em Jesus.
Um Deus que não se cansa
Deus nunca se rende: o seu lamento não prevalece sobre a esperança. Como o vinhateiro recomeça, após cada rejeição, a assediar o nosso coração com novos profetas, novos servos, com o próprio Filho. E o fruto de amanhã conta mais do que a rejeição de ontem. Persistentemente, ainda hoje, continua um diálogo de amor: Ele bate à nossa porta nas pessoas que procuram pão, conforto, evangelho, amor. Ele vem naqueles que esperam do nosso campo um vinho de festa, um canto de alegria, um punhado de mais vida.
Dar fruto!
Se o fruto da vinha alegra o coração do homem, existe uma vinha cujos frutos alegram o coração de Deus. Não é a observância das regras, o sacrifício, o temor que rejubilam Deus, mas é fundamentalmente dar fruto! O sonho de Deus não é o pagamento de um tributo por parte dos trabalhadores, mas é uma vinha que não produza mais cachos de sangue ou uvas amargas de lágrimas, mas bagos cheios de luz e de sol.
No fim da parábola da vida, a vinha será dada a quem saberá encher de frutos o mundo. O mundo pertence a quem o torna melhor, a quem o faz florescer, a quem lhe faz amadurecer os cachos. Para isso veio Cristo, vide e vinho de festa. Sobre Ele nos enxertamos, Nele nos saciamos, Nele nos inebriamos, Nele amadurecemos, para assim encher as ânforas do mundo com o miraculoso vinho de Canaã. E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
O serviço na vinha do Senhor pede-me um coração livre e enamorado, deslumbrado e fiel.
REZAR A PALAVRA
Senhor da vinha, do trabalho e do fruto,
louvo-te porque precisas de mim na tua vinha,
mesmo sabendo que o meu servir é frágil.
Louvo-te porque lanças sinais de mudança no meu crescer,
mesmo sabendo que posso apedrejar a tua palavra.
Louvo-te porque me ensinas por Teu Filho,
mesmo sabendo que o cravo na cruz, sempre que rejeito a Tua vontade.
Senhor da vinha, do trabalho e do fruto,
torna as minhas mãos gratas e o meu coração sedento de Ti.
Caros amigos e amigas, a parábola trágica de hoje narra a história de um amor sem confins que não teme a ingratidão e o não acolhimento dos homens. Mesmo a maior traição é incapaz de parar o plano de Deus: a vinha dará fruto e Deus não desperdiçará a sua eternidade em vinganças.
“Havia um proprietário que plantou uma vinha…”
É assim que começa a história perene de um amor, a nobreza de alma do patrão, o cuidado apaixonado com que planta a vinha, o abraço com que a cerca, a fonte que nela faz jorrar. Todavia, começa também assim a história de uma traição, de uma violência estúpida de quem pensa apoderar-se da herança matando o herdeiro. Esta é a história de um Deus apaixonado e a história da humanidade com as suas infidelidades.
Somos nós o campo da predilecção de Deus, a vinha amada de mil cuidados e atenções. Mas também somos a sua desilusão quando nos fechamos na infertilidade do nosso terreno. E, no entanto, a parábola diz que Deus nos ama com um amor que nenhuma desilusão poderá apagar: Ele nada gasta em vinganças! O seu Reino é uma casa nova cuja pedra angular é Cristo, uma vinha cuja verdadeira vide é Cristo. Esta é a folia de Deus: dar-nos um lugar, um encontro, um tempo em Jesus.
Um Deus que não se cansa
Deus nunca se rende: o seu lamento não prevalece sobre a esperança. Como o vinhateiro recomeça, após cada rejeição, a assediar o nosso coração com novos profetas, novos servos, com o próprio Filho. E o fruto de amanhã conta mais do que a rejeição de ontem. Persistentemente, ainda hoje, continua um diálogo de amor: Ele bate à nossa porta nas pessoas que procuram pão, conforto, evangelho, amor. Ele vem naqueles que esperam do nosso campo um vinho de festa, um canto de alegria, um punhado de mais vida.
Dar fruto!
Se o fruto da vinha alegra o coração do homem, existe uma vinha cujos frutos alegram o coração de Deus. Não é a observância das regras, o sacrifício, o temor que rejubilam Deus, mas é fundamentalmente dar fruto! O sonho de Deus não é o pagamento de um tributo por parte dos trabalhadores, mas é uma vinha que não produza mais cachos de sangue ou uvas amargas de lágrimas, mas bagos cheios de luz e de sol.
No fim da parábola da vida, a vinha será dada a quem saberá encher de frutos o mundo. O mundo pertence a quem o torna melhor, a quem o faz florescer, a quem lhe faz amadurecer os cachos. Para isso veio Cristo, vide e vinho de festa. Sobre Ele nos enxertamos, Nele nos saciamos, Nele nos inebriamos, Nele amadurecemos, para assim encher as ânforas do mundo com o miraculoso vinho de Canaã. E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
O serviço na vinha do Senhor pede-me um coração livre e enamorado, deslumbrado e fiel.
REZAR A PALAVRA
Senhor da vinha, do trabalho e do fruto,
louvo-te porque precisas de mim na tua vinha,
mesmo sabendo que o meu servir é frágil.
Louvo-te porque lanças sinais de mudança no meu crescer,
mesmo sabendo que posso apedrejar a tua palavra.
Louvo-te porque me ensinas por Teu Filho,
mesmo sabendo que o cravo na cruz, sempre que rejeito a Tua vontade.
Senhor da vinha, do trabalho e do fruto,
torna as minhas mãos gratas e o meu coração sedento de Ti.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
XXVI DOMINGO COMUM A
Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha’. Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’. Depois, porém, arrependeu-se e foi. O homem dirigiu-se ao segundo filho e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu: ‘Eu vou, Senhor’. Mas de facto não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?». Eles responderam-Lhe: «O primeiro». Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo: Os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o reino de Deus. João Baptista veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os publicanos e as mulheres de má vida acreditaram. E vós, que bem o vistes, não vos arrependestes, acreditando nele».
Caros amigos e amigas, os trabalhos da vinha requerem gente que a sintam como sua, que a amem. Aos filhos é pedida a mesma paixão e encanto do Pai: não aceitar trabalhar para a vinha é rejeitar o Pai; cuidar das videiras e enamorar-se por elas é partilhar o amor do Pai.
Os cuidados e a alegria da vinha
Levam-se vários anos para plantar uma vinha e assim transformar a terra árida em vinho bom. Requerem-se cuidados e atenções redobradas, mesmo se os frutos não são garantidos. O tronco contorcido e os ramos nunca lineares recordam uma história que se desenvolve, cresce, serpenteia e ramifica. Mais do que o cansaço e suor, a vinha torna-se, através do vinho, profecia da alegria e de festa para toda a família.
Somos nós a vinha de Deus! Somos nós os cachos cheios de sol e de mel, o sonho de uma única família em festa. É ainda Ele que nos convida para trabalhar esta vinha com vida, com amor e sedução, numa escolha entre uma existência estéril e uma vida frutuosa de palavras e acções. Nesta vinha, o convite do Senhor não fala em obrigações mas em fecundidade, recorda sementes que se tornam árvores, abraça a prostituta que se torna mulher, converte o coração disperso que se torna unificado.
Um homem tinha dois filhos
Os dois filhos são o nosso coração dividido: um coração que diz sim e que diz não; que se contradiz entre o dizer e o fazer; demasiado veloz com a língua e algo lento com a vida. Como lembra S. Paulo, “não fazemos o bem que queremos, mas o mal que não queremos”.
Ocorre unir o nosso coração de “enamorados sem amor” e de “crentes não praticantes”. Como cristãos corremos o risco de tirarmos Deus da gaveta 5 minutos por dia, 1 hora por semana, e acabada a bênção final da Missa dizermos: “amém, que se faz tarde”! Talvez fosse bom não nos ficarmos por palavras (a começar pelos padres), mas com simplicidade e coragem gritar o Evangelho com a própria vida.
Publicanos e prostituas à frente
Todos temos as nossas prostituições, as nossas velhas aparências e simulações de palavras vazias. Contudo, em Deus não há palavras de condenação, apenas a promessa de uma vida nova. Ele tem sempre confiança que os nossos “nãos” se convertam, acredita permanentemente em nós apesar dos nossos erros e atrasos em dizer “sim”. Ninguém está perdido para sempre. A nossa história é feita de conversões e mudanças, dilatação do coração, naquele caminho que nos faz passar de servos inúteis a filhos, de empregados estéreis a fecundos irmãos da mesma família.
Deus faz florir a sua vinha na história através de tantas vindimas escondidas onde cada um se empenha a tornar menos árida a terra, menos sós as pessoas, menos contraditórios os corações. Deus não é um dever, é amor e liberdade! E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Quero cultivar um coração disponível e alegre para o trabalho na vinha do Senhor.
REZAR A PALAVRA
Senhor da vinha, que cultivas o vinho do amor, e dás a beber o teu sangue,
Tu que recolhes o sumo do labor daqueles que amam e servem,
embriagados de sonhos por acreditarem no fruto do teu campo:
Livra-me das intenções abastecidas de palavras, mas esvaídas de ardor;
proteje-me da cegueira obstinada e do ar viciado das minhas justificações.
Vinhateiro, que és Pai e és Esposo, a tua vinha é a minha preciosa herança!
O amor da tua vinha será o meu afã, a tua delícia será o meu inteiro gozo.
Envia-me... num vendaval de sins e de nãos, a tua vontade é a minha estrada.
Caros amigos e amigas, os trabalhos da vinha requerem gente que a sintam como sua, que a amem. Aos filhos é pedida a mesma paixão e encanto do Pai: não aceitar trabalhar para a vinha é rejeitar o Pai; cuidar das videiras e enamorar-se por elas é partilhar o amor do Pai.
Os cuidados e a alegria da vinha
Levam-se vários anos para plantar uma vinha e assim transformar a terra árida em vinho bom. Requerem-se cuidados e atenções redobradas, mesmo se os frutos não são garantidos. O tronco contorcido e os ramos nunca lineares recordam uma história que se desenvolve, cresce, serpenteia e ramifica. Mais do que o cansaço e suor, a vinha torna-se, através do vinho, profecia da alegria e de festa para toda a família.
Somos nós a vinha de Deus! Somos nós os cachos cheios de sol e de mel, o sonho de uma única família em festa. É ainda Ele que nos convida para trabalhar esta vinha com vida, com amor e sedução, numa escolha entre uma existência estéril e uma vida frutuosa de palavras e acções. Nesta vinha, o convite do Senhor não fala em obrigações mas em fecundidade, recorda sementes que se tornam árvores, abraça a prostituta que se torna mulher, converte o coração disperso que se torna unificado.
Um homem tinha dois filhos
Os dois filhos são o nosso coração dividido: um coração que diz sim e que diz não; que se contradiz entre o dizer e o fazer; demasiado veloz com a língua e algo lento com a vida. Como lembra S. Paulo, “não fazemos o bem que queremos, mas o mal que não queremos”.
Ocorre unir o nosso coração de “enamorados sem amor” e de “crentes não praticantes”. Como cristãos corremos o risco de tirarmos Deus da gaveta 5 minutos por dia, 1 hora por semana, e acabada a bênção final da Missa dizermos: “amém, que se faz tarde”! Talvez fosse bom não nos ficarmos por palavras (a começar pelos padres), mas com simplicidade e coragem gritar o Evangelho com a própria vida.
Publicanos e prostituas à frente
Todos temos as nossas prostituições, as nossas velhas aparências e simulações de palavras vazias. Contudo, em Deus não há palavras de condenação, apenas a promessa de uma vida nova. Ele tem sempre confiança que os nossos “nãos” se convertam, acredita permanentemente em nós apesar dos nossos erros e atrasos em dizer “sim”. Ninguém está perdido para sempre. A nossa história é feita de conversões e mudanças, dilatação do coração, naquele caminho que nos faz passar de servos inúteis a filhos, de empregados estéreis a fecundos irmãos da mesma família.
Deus faz florir a sua vinha na história através de tantas vindimas escondidas onde cada um se empenha a tornar menos árida a terra, menos sós as pessoas, menos contraditórios os corações. Deus não é um dever, é amor e liberdade! E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Quero cultivar um coração disponível e alegre para o trabalho na vinha do Senhor.
REZAR A PALAVRA
Senhor da vinha, que cultivas o vinho do amor, e dás a beber o teu sangue,
Tu que recolhes o sumo do labor daqueles que amam e servem,
embriagados de sonhos por acreditarem no fruto do teu campo:
Livra-me das intenções abastecidas de palavras, mas esvaídas de ardor;
proteje-me da cegueira obstinada e do ar viciado das minhas justificações.
Vinhateiro, que és Pai e és Esposo, a tua vinha é a minha preciosa herança!
O amor da tua vinha será o meu afã, a tua delícia será o meu inteiro gozo.
Envia-me... num vendaval de sins e de nãos, a tua vontade é a minha estrada.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
XXV DOMINGO COMUM A
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um proprietário, que saiu muito cedo a contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a sua vinha. Saiu a meia-manhã, viu outros que estavam na praça ociosos e disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha, e dar-vos-ei o que for justo’. E eles foram. Voltou a sair, por volta do meio-dia e pelas três horas da tarde, e fez o mesmo. Saindo ao cair da tarde, encontrou ainda outros que estavam parados e disse-lhes: ‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’. Eles responderam-lhe: ‘Ninguém nos contratou’. Ele disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha’. Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao capataz: «Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, a começar pelos últimos e a acabar nos primeiros’. Vieram os do entardecer e receberam um denário cada um. Quando vieram os primeiros, julgaram que iam receber mais, mas receberam também um denário cada um. Depois de o terem recebido, começaram a murmurar contra o proprietário, dizendo: ‘Estes últimos trabalharam só uma hora, e deste-lhes a mesma paga que a nós, que suportámos o peso do dia e o calor’. Mas o proprietário respondeu a um deles: ‘Amigo, em nada te prejudico. Não foi um denário que ajustaste comigo? Leva o que é teu e segue o teu caminho. Eu quero dar a este último tanto como a ti. Não me será permitido fazer o que quero do que é meu? Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom?’. Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos». (mT 20, 1-16)
Caros amigos e caras amigas, incomoda-nos a excessiva generosidade de Deus. Com os primeiros trabalhadores o Senhor parece ser justo; com os segundos Ele é misericordioso. Na verdade, Deus ama a todos por igual. O seu amor é único e indivisível, não mensurável nem quantificável.
A paixão do vinhateiro
Entre todos os campos de cultivo, a vinha é aquele onde o agricultor investe mais paixão e que requer mais cuidados. É na vinha que o lavrador investe mais suor e poesia, paciência e inteligência, amor e preocupação. É o trabalho que ama mais: na parábola sai por cinco vezes à procura de trabalhadores, porque estão ociosos ou porque sem eles não se termina o trabalho.
É esta a paixão de Deus. É esta minha vida que O fascina, como vinha que espera pelo fruto da alegria. É este o seu anseio de partilhar comigo os trabalhos e responsabilidades do Reino.
Deus não sabe matemática
Não é um Deus que conta ou subtrai, mas um Deus que acrescenta continuamente um mais. É um Deus que intensifica a jornada e multiplica o fruto do trabalho. Não procuremos então o porquê da igualdade no pagamento, mas centremo-nos antes no acréscimo, no incremento de vida que se espalha sobre todos os trabalhadores, no aumento de alegria e na presença jovial de tantos que colaboram e se sentam à mesma mesa.
“Vinde vós também trabalhar para a minha vinha”
Desde a primeira aurora existe na parábola um tesouro inestimável, o de estar sempre com o Senhor, tal como o filho mais velho doutra parábola que goza da presença do Pai: “tu estás sempre comigo e aquilo que é meu é teu”. Esquecemo-nos facilmente que os trabalhadores da primeira hora gozam da alegria e presença do Mestre desde o início. É um dom poder trabalhar na sua vinha; e é um privilégio poder voltar nos dias seguintes. Não nos deixemos levar pelo míope fiscalismo. Todos somos mendicantes, clandestinos sem direitos, pobres e afamados, à espera de um convite, de uma palavra que sacie, de um encontro que dê vida. A voz que chama não pede para realizar trabalhos forçados. É antes um anúncio alegre, um tesouro que dá vida: estar na vinha do Senhor é estar na sua via e na sua vida. E isso, caros amigos, é Evangelho.
VIVER A PALAVRA
O serviço na vinha do Senhor pede-me um empenho inteiro: entusiasmado e desinteressado.
REZAR A PALAVRA
Senhor, ensina-me o mistério fecundo do teu tempo,
ensina-me a disponibilidade eterna do teu servir.
Ensina-me a docilidade atenta do teu convite e a bondade justa do teu agir.
Coloca no meu desejo quotidiano de murmurar
uma semente de paz, de acolhimento e de gratuidade.
Coloca no meu querer, confuso e preguiçoso, uma semente de escuta,
de prontidão e de obediência. Quero trabalhar na tua vinha, Senhor!
Caros amigos e caras amigas, incomoda-nos a excessiva generosidade de Deus. Com os primeiros trabalhadores o Senhor parece ser justo; com os segundos Ele é misericordioso. Na verdade, Deus ama a todos por igual. O seu amor é único e indivisível, não mensurável nem quantificável.
A paixão do vinhateiro
Entre todos os campos de cultivo, a vinha é aquele onde o agricultor investe mais paixão e que requer mais cuidados. É na vinha que o lavrador investe mais suor e poesia, paciência e inteligência, amor e preocupação. É o trabalho que ama mais: na parábola sai por cinco vezes à procura de trabalhadores, porque estão ociosos ou porque sem eles não se termina o trabalho.
É esta a paixão de Deus. É esta minha vida que O fascina, como vinha que espera pelo fruto da alegria. É este o seu anseio de partilhar comigo os trabalhos e responsabilidades do Reino.
Deus não sabe matemática
Não é um Deus que conta ou subtrai, mas um Deus que acrescenta continuamente um mais. É um Deus que intensifica a jornada e multiplica o fruto do trabalho. Não procuremos então o porquê da igualdade no pagamento, mas centremo-nos antes no acréscimo, no incremento de vida que se espalha sobre todos os trabalhadores, no aumento de alegria e na presença jovial de tantos que colaboram e se sentam à mesma mesa.
“Vinde vós também trabalhar para a minha vinha”
Desde a primeira aurora existe na parábola um tesouro inestimável, o de estar sempre com o Senhor, tal como o filho mais velho doutra parábola que goza da presença do Pai: “tu estás sempre comigo e aquilo que é meu é teu”. Esquecemo-nos facilmente que os trabalhadores da primeira hora gozam da alegria e presença do Mestre desde o início. É um dom poder trabalhar na sua vinha; e é um privilégio poder voltar nos dias seguintes. Não nos deixemos levar pelo míope fiscalismo. Todos somos mendicantes, clandestinos sem direitos, pobres e afamados, à espera de um convite, de uma palavra que sacie, de um encontro que dê vida. A voz que chama não pede para realizar trabalhos forçados. É antes um anúncio alegre, um tesouro que dá vida: estar na vinha do Senhor é estar na sua via e na sua vida. E isso, caros amigos, é Evangelho.
VIVER A PALAVRA
O serviço na vinha do Senhor pede-me um empenho inteiro: entusiasmado e desinteressado.
REZAR A PALAVRA
Senhor, ensina-me o mistério fecundo do teu tempo,
ensina-me a disponibilidade eterna do teu servir.
Ensina-me a docilidade atenta do teu convite e a bondade justa do teu agir.
Coloca no meu desejo quotidiano de murmurar
uma semente de paz, de acolhimento e de gratuidade.
Coloca no meu querer, confuso e preguiçoso, uma semente de escuta,
de prontidão e de obediência. Quero trabalhar na tua vinha, Senhor!
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
XXIV DOMINGO COMUM A
Naquele tempo, Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou-Lhe: «Se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?». Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Na verdade, o reino de Deus pode comparar-se a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. Logo de começo, apresentaram-lhe um homem que devia dez mil talentos. Não tendo com que pagar, o senhor mandou que fosse vendido, com a mulher, os filhos e tudo quanto possuía, para assim pagar a dívida. Então o servo prostrou-se a seus pés, dizendo: ‘Senhor, concede-me um prazo e tudo te pagarei’. Cheio de compaixão, o senhor daquele servo deu-lhe a liberdade e perdoou-lhe a dívida. Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, começou a apertar-lhe o pescoço, dizendo: ‘Paga o que me deves’. Então o companheiro caiu a seus pés e suplicou-lhe, dizendo:
‘Concede-me um prazo e pagar-te-ei’. Ele, porém, não consentiu e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto devia. Testemunhas desta cena, os seus companheiros ficaram muito tristes e foram contar ao senhor tudo o que havia sucedido. Então, o senhor mandou-o chamar e disse: ‘Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque mo pediste. Não devias, também tu, compadecer-te do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’. E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia. Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão de todo o coração».
Caros amigos e amigas, através desta parábola contabilística, Jesus revela a grandeza do perdão de Deus, a álgebra que nós temos de estudar para exercer o perdão para com os nossos irmãos.
Os cálculos do perdão
Pedro faz contas de cabeça e até parece apresentar a Jesus um cálculo arrojado, quanto ao perdão. Mas Jesus puxa os cálculos até à medida incomensurável de Deus. Esta parábola revela-nos qual a nossa situação de dívida em relação a Deus. O impacto é tanto maior se considerarmos a abissal desproporção entre as duas dívidas mencionadas. Como o primeiro servo da parábola, nós temos perante Deus uma conta impossível de saldar. Mas quantas vezes, como o servo perdoado, somos uns credores impiedosos? Tendemos a organizar um cadastro e debitar ao outro a mínima falha. Ainda que dissimulada, a vingança é prezada. Achamos que o outro deve sentir que nos ofendeu. Mas fará sentido ocupar o tempo da nossa alegria a desfrutar amuos e a coleccionar mágoas?! Incrivelmente no espaço precioso da nossa memória vogam velhas ninharias que puxamos com facilidade, para atirar à cara do irmão! Perdoar pode significar morrer, mas estende a vida e a vida do outro vivifica-nos…
Perdoou-lhe a dívida
O perdão está nas delícias de Deus. Perdoar é a sua especialidade. Só Aquele que nos criou sabe bem como recriar-nos. O perdão é recriação, dá a liberdade, faz viver. Pensar levianamente no perdão de Deus é também abordar a questão do pecado ou da justiça com superficialidade. Perde-se o sentido do pecado quando se perde o sentido do amor. Será que relativizamos os mandamentos, as regras de boa conduta, os deveres… por achar que sempre podemos obter de Deus uma absolvição… arbitrária? Não, amigos e amigas, o perdão não se pode confundir com impunidade. E não é preciso que Deus nos castigue: as consequências virão, mais cedo ou mais tarde, como fruto amargo do amargo que tivermos semeado. Não é Deus que perde quando pecamos, quem perde somos sempre nós e Ele não suporta que nos percamos, por isso a sua misericórdia está sempre de portas abertas.
Assim procederá convosco meu Pai celeste…
Não se convence alguém a perdoar com uma palmada nas costas e uma frase do género: “Deixa lá!” Mas há um motivo poderosíssimo que nos pode conduzir a todos os perdões: é o perdão de Deus. No alto da Cruz Jesus brada: “Pai, perdoa-lhes” e não diz: “Pai, Eu lhes perdoo!” Ele entrega o perdão ao Pai. O perdão que concedemos não pode depender de qualquer burocracia, tornar-se fonte de humilhação para o irmão, nem é uma esmola dada pelo nosso conceito de superioridade. Antes de ser uma dívida para connosco, a ofensa do outro é uma dívida para com Deus e é a Ele que pertence perdoar. A nós compete-nos ser intérpretes do perdão de que nós próprios fruímos, tal como deveria ter feito o servo da parábola, amnistiado pelo seu senhor. Mas se fechamos o perdão ao irmão, como podemos abrir-nos ao perdão de Deus?
Caros amigos e amigas, com um amor tão imenso a amar-nos nós podemos e temos de perdoar… sempre e totalmente. Com os números, mesmo escassos e titubeantes, dos nossos perdões Jesus pode e quer fazer de cada um de nós o resultado exorbitante de um saldo positivo de vida… e isso é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Vou olhar com amor, abraçar sem distinção e perdoar sem medida.
REZAR A PALAVRA
Pai Nosso, que estás nos Céus, o prazo infinito do teu amor dá-me confiança:
perdoa a minha débil consciência de que preciso do teu perdão;
perdoa a quem me tem ofendido, como quero que a mim me perdoes;
perdoa o perdão insuficiente e mesquinho que concedo a quem me ofendeu;
Pai Nosso, que estás nos Céus, perdoa a minha ofensa
assim como perdoo a quem me tem ofendido.
‘Concede-me um prazo e pagar-te-ei’. Ele, porém, não consentiu e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto devia. Testemunhas desta cena, os seus companheiros ficaram muito tristes e foram contar ao senhor tudo o que havia sucedido. Então, o senhor mandou-o chamar e disse: ‘Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque mo pediste. Não devias, também tu, compadecer-te do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’. E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia. Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão de todo o coração».
Caros amigos e amigas, através desta parábola contabilística, Jesus revela a grandeza do perdão de Deus, a álgebra que nós temos de estudar para exercer o perdão para com os nossos irmãos.
Os cálculos do perdão
Pedro faz contas de cabeça e até parece apresentar a Jesus um cálculo arrojado, quanto ao perdão. Mas Jesus puxa os cálculos até à medida incomensurável de Deus. Esta parábola revela-nos qual a nossa situação de dívida em relação a Deus. O impacto é tanto maior se considerarmos a abissal desproporção entre as duas dívidas mencionadas. Como o primeiro servo da parábola, nós temos perante Deus uma conta impossível de saldar. Mas quantas vezes, como o servo perdoado, somos uns credores impiedosos? Tendemos a organizar um cadastro e debitar ao outro a mínima falha. Ainda que dissimulada, a vingança é prezada. Achamos que o outro deve sentir que nos ofendeu. Mas fará sentido ocupar o tempo da nossa alegria a desfrutar amuos e a coleccionar mágoas?! Incrivelmente no espaço precioso da nossa memória vogam velhas ninharias que puxamos com facilidade, para atirar à cara do irmão! Perdoar pode significar morrer, mas estende a vida e a vida do outro vivifica-nos…
Perdoou-lhe a dívida
O perdão está nas delícias de Deus. Perdoar é a sua especialidade. Só Aquele que nos criou sabe bem como recriar-nos. O perdão é recriação, dá a liberdade, faz viver. Pensar levianamente no perdão de Deus é também abordar a questão do pecado ou da justiça com superficialidade. Perde-se o sentido do pecado quando se perde o sentido do amor. Será que relativizamos os mandamentos, as regras de boa conduta, os deveres… por achar que sempre podemos obter de Deus uma absolvição… arbitrária? Não, amigos e amigas, o perdão não se pode confundir com impunidade. E não é preciso que Deus nos castigue: as consequências virão, mais cedo ou mais tarde, como fruto amargo do amargo que tivermos semeado. Não é Deus que perde quando pecamos, quem perde somos sempre nós e Ele não suporta que nos percamos, por isso a sua misericórdia está sempre de portas abertas.
Assim procederá convosco meu Pai celeste…
Não se convence alguém a perdoar com uma palmada nas costas e uma frase do género: “Deixa lá!” Mas há um motivo poderosíssimo que nos pode conduzir a todos os perdões: é o perdão de Deus. No alto da Cruz Jesus brada: “Pai, perdoa-lhes” e não diz: “Pai, Eu lhes perdoo!” Ele entrega o perdão ao Pai. O perdão que concedemos não pode depender de qualquer burocracia, tornar-se fonte de humilhação para o irmão, nem é uma esmola dada pelo nosso conceito de superioridade. Antes de ser uma dívida para connosco, a ofensa do outro é uma dívida para com Deus e é a Ele que pertence perdoar. A nós compete-nos ser intérpretes do perdão de que nós próprios fruímos, tal como deveria ter feito o servo da parábola, amnistiado pelo seu senhor. Mas se fechamos o perdão ao irmão, como podemos abrir-nos ao perdão de Deus?
Caros amigos e amigas, com um amor tão imenso a amar-nos nós podemos e temos de perdoar… sempre e totalmente. Com os números, mesmo escassos e titubeantes, dos nossos perdões Jesus pode e quer fazer de cada um de nós o resultado exorbitante de um saldo positivo de vida… e isso é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Vou olhar com amor, abraçar sem distinção e perdoar sem medida.
REZAR A PALAVRA
Pai Nosso, que estás nos Céus, o prazo infinito do teu amor dá-me confiança:
perdoa a minha débil consciência de que preciso do teu perdão;
perdoa a quem me tem ofendido, como quero que a mim me perdoes;
perdoa o perdão insuficiente e mesquinho que concedo a quem me ofendeu;
Pai Nosso, que estás nos Céus, perdoa a minha ofensa
assim como perdoo a quem me tem ofendido.
domingo, 4 de setembro de 2011
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
XXIII DOMINGO COMUM A
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se o teu irmão te ofender, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te escutar, terás ganhado o teu irmão. Se não te escutar, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. Mas se ele não lhes der ouvidos, comunica o caso à Igreja; e se também não der ouvidos à Igreja, considera-o como um pagão ou um publicano. Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes na terra será ligado no Céu; e tudo o que desligardes na terra será desligado no Céu. Digo-vos ainda: Se dois de vós se unirem na terra para pedirem qualquer coisa, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos Céus. Na verdade, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles». (Mt 18, 15-20)
Caros amigos e amigas, todos os dias as nossas relações com os outros são postas à prova. No Evangelho de hoje Jesus revela-nos o caminho correcto desde a ofensa até ao irmão. O acento está no irmão e não na ofensa.
A indiferença, a ofensa ou o irmão?
É séria a tentação de nos movimentarmos como fragmentos individuais que não se tocam, ou encerrarmo-nos numa campânula de indiferença, a pretexto de uma tolerância inútil. É tão cómodo não ter nada a ver com os outros! Não é bom que apenas nos demos conta da sua existência quando nos incomodam e nos ferem, não é bom deixar que o incómodo e a ferida lhe tapem o rosto e insinuem apenas a sua fealdade. Com muita frequência temos na ponta da língua a displicente réplica de Caim: “Porventura sou guarda do meu irmão?” Mas esta pergunta está comprometida com a incapacidade de integrarmos o outro na nossa vida e, não raro, pretende disfarçar o nosso próprio contributo para a sua perda. Deus, porém, insiste em perguntar: Onde está o teu irmão? E coloca-se, Ele mesmo, na pele deste irmão de todos os tempos, que se faz pecado, que é acusado e lançado fora da cidade e ali derrama um sangue que há-de gritar a reconciliação. Jesus convida-nos a sentir o outro como parte de nós mesmos, de modo que a sua perda se possa comparar à dor de uma amputação.
Ir até ao fim para ganhar o irmão
Temos aqui um verdadeiro manual de correcção fraterna. Apreciemos o gradativo processo em que Jesus nos revela a forma de agir de Deus para nos ganhar. Começa por se abeirar de nós, pessoalmente, falando-nos ao coração através da sua Palavra e da oração. Ele envia o seu próprio Filho numa carne semelhante à nossa para que melhor O entendamos e investe em todas as formas de persuasão até chegar à eloquência da Cruz. Se, ainda assim, O não ouvimos, Ele tenta a nossa cura no aconchego comunitário. Deus simplesmente nunca desiste de nós e esgota todas as possibilidades de redenção. Quando nos considera como pagãos ou publicanos não quer dizer que nos lance fora, mas que respeita esse espaço sagrado que se chama liberdade individual.
É preciso entender que nós somos solicitude do Senhor para com os nossos irmãos e que ser sentinela não é estar à espera que o irmão peque para premir o gatilho de uma acusação gratuita e arrogante. A denúncia faz parte da cura, mas não vale entrarmos pela porta fácil da coação, da manipulação ou de qualquer tipo de terrorismo moralista. O pecado do outro não pode ser pretexto para nos arvorarmos em superioridade e presunção. O Senhor aponta-nos a delicadeza própria d’Ele, uma diligência que se antecipa, mas que não humilha. Ensina-nos a vencer a indiferença com a força do diálogo e da humildade. O irmão não se sequestra, não se torce, não se verga, mas ganha-se, até ao ponto de ele se nos dar voluntariamente. O irmão é um troféu pelo qual vale a pena lutar!
A comunidade é o Céu
Ainda que suportar o peso da diferença do outro seja fonte de dor e contradição, já sabíamos que “a união faz a força” e tínhamos esplêndidos tratados sobre associativismo, mas Jesus faz-nos uma revelação impressionante: o Seu nome transfigura a comunidade e esta tem o poder de agarrar o céu para dentro de si mesma, liga e desliga no céu. A comunidade com Jesus não é um espaço de consumo egoísta, mas um manancial de partilha onde se sente o irmão como parte de nós e onde podemos degustar a presença do próprio Deus e o dom total de Si mesmo. É o ambiente privilegiado onde Deus nos educa, nos cura e nos mima. Ela mesma é o Céu.
Jesus sente-se bem em família! Convidemo-l’O para a nossa. Sintamos n’Ele a alegria exigente de viver em Igreja e façamos das nossas paróquias e das nossas famílias comunidades que têm n’Ele o segredo da sua solidez! Porque a comunidade, amigos e amigas, é o mais belo livro onde Deus escreve a força do Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Nos gestos do meu dia-a-dia serei ponte que liga o Homem a Deus.
REZAR A PALAVRA
Senhor, segredas o perdão na história que cresce em mim...
Senhor, o teu abraço de irmão, lança-me para o Pai...
porque me une, com a cor e a força do Espirito,
à verdadeira fé, à firme esperança, ao perfeito amor.
Senhor, quero ser teu...só teu...saborerar a união de vontades
e seguir as pegadas do teu sim, de mãos dadas com o irmão.
Reunidos em teu nome, contemplamos-te no centro...
És o motivo, o início e a meta dos nossos laços! Tu estás no meio de nós!!!
Caros amigos e amigas, todos os dias as nossas relações com os outros são postas à prova. No Evangelho de hoje Jesus revela-nos o caminho correcto desde a ofensa até ao irmão. O acento está no irmão e não na ofensa.
A indiferença, a ofensa ou o irmão?
É séria a tentação de nos movimentarmos como fragmentos individuais que não se tocam, ou encerrarmo-nos numa campânula de indiferença, a pretexto de uma tolerância inútil. É tão cómodo não ter nada a ver com os outros! Não é bom que apenas nos demos conta da sua existência quando nos incomodam e nos ferem, não é bom deixar que o incómodo e a ferida lhe tapem o rosto e insinuem apenas a sua fealdade. Com muita frequência temos na ponta da língua a displicente réplica de Caim: “Porventura sou guarda do meu irmão?” Mas esta pergunta está comprometida com a incapacidade de integrarmos o outro na nossa vida e, não raro, pretende disfarçar o nosso próprio contributo para a sua perda. Deus, porém, insiste em perguntar: Onde está o teu irmão? E coloca-se, Ele mesmo, na pele deste irmão de todos os tempos, que se faz pecado, que é acusado e lançado fora da cidade e ali derrama um sangue que há-de gritar a reconciliação. Jesus convida-nos a sentir o outro como parte de nós mesmos, de modo que a sua perda se possa comparar à dor de uma amputação.
Ir até ao fim para ganhar o irmão
Temos aqui um verdadeiro manual de correcção fraterna. Apreciemos o gradativo processo em que Jesus nos revela a forma de agir de Deus para nos ganhar. Começa por se abeirar de nós, pessoalmente, falando-nos ao coração através da sua Palavra e da oração. Ele envia o seu próprio Filho numa carne semelhante à nossa para que melhor O entendamos e investe em todas as formas de persuasão até chegar à eloquência da Cruz. Se, ainda assim, O não ouvimos, Ele tenta a nossa cura no aconchego comunitário. Deus simplesmente nunca desiste de nós e esgota todas as possibilidades de redenção. Quando nos considera como pagãos ou publicanos não quer dizer que nos lance fora, mas que respeita esse espaço sagrado que se chama liberdade individual.
É preciso entender que nós somos solicitude do Senhor para com os nossos irmãos e que ser sentinela não é estar à espera que o irmão peque para premir o gatilho de uma acusação gratuita e arrogante. A denúncia faz parte da cura, mas não vale entrarmos pela porta fácil da coação, da manipulação ou de qualquer tipo de terrorismo moralista. O pecado do outro não pode ser pretexto para nos arvorarmos em superioridade e presunção. O Senhor aponta-nos a delicadeza própria d’Ele, uma diligência que se antecipa, mas que não humilha. Ensina-nos a vencer a indiferença com a força do diálogo e da humildade. O irmão não se sequestra, não se torce, não se verga, mas ganha-se, até ao ponto de ele se nos dar voluntariamente. O irmão é um troféu pelo qual vale a pena lutar!
A comunidade é o Céu
Ainda que suportar o peso da diferença do outro seja fonte de dor e contradição, já sabíamos que “a união faz a força” e tínhamos esplêndidos tratados sobre associativismo, mas Jesus faz-nos uma revelação impressionante: o Seu nome transfigura a comunidade e esta tem o poder de agarrar o céu para dentro de si mesma, liga e desliga no céu. A comunidade com Jesus não é um espaço de consumo egoísta, mas um manancial de partilha onde se sente o irmão como parte de nós e onde podemos degustar a presença do próprio Deus e o dom total de Si mesmo. É o ambiente privilegiado onde Deus nos educa, nos cura e nos mima. Ela mesma é o Céu.
Jesus sente-se bem em família! Convidemo-l’O para a nossa. Sintamos n’Ele a alegria exigente de viver em Igreja e façamos das nossas paróquias e das nossas famílias comunidades que têm n’Ele o segredo da sua solidez! Porque a comunidade, amigos e amigas, é o mais belo livro onde Deus escreve a força do Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Nos gestos do meu dia-a-dia serei ponte que liga o Homem a Deus.
REZAR A PALAVRA
Senhor, segredas o perdão na história que cresce em mim...
Senhor, o teu abraço de irmão, lança-me para o Pai...
porque me une, com a cor e a força do Espirito,
à verdadeira fé, à firme esperança, ao perfeito amor.
Senhor, quero ser teu...só teu...saborerar a união de vontades
e seguir as pegadas do teu sim, de mãos dadas com o irmão.
Reunidos em teu nome, contemplamos-te no centro...
És o motivo, o início e a meta dos nossos laços! Tu estás no meio de nós!!!
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