sexta-feira, 31 de agosto de 2012

XII Domingo Comum B


Naquele tempo, reuniu-se à volta de Jesus um grupo de fariseus e alguns escribas que tinham vindo de Jerusalém. Viram que alguns dos discípulos de Jesus comiam com as mãos impuras, isto é, sem as lavar. – Na verdade, os fariseus e os judeus em geral não comem sem ter lavado cuidadosamente as mãos, conforme a tradição dos antigos. Ao voltarem da praça pública, não comem sem antes se terem lavado. E seguem muitos outros costumes a que se prenderam por tradição, como lavar os copos, os jarros e as vasilhas de cobre -. Os fariseus e os escribas perguntaram a Jesus: «Porque não seguem os teus discípulos a tradição dos antigos, e comem sem lavar as mãos?». Jesus respondeu-lhes: «Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. É vão o culto que Me prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos’. Vós deixais de lado o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens». Depois, Jesus chamou de novo a Si a multidão e começou a dizer-lhe: «Escutai-Me e procurai compreender. Não há nada fora do homem que ao entrar nele o possa tornar impuro. O que sai do homem é que o torna impuro; porque do interior do homem é que saem as más intenções: imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, cobiças, injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez. Todos estes vícios saem do interior do homem e são eles que o tornam impuro».

Caros amigos e amigas, a Palavra deste Domingo continua a viagem pelo tema da refeição, que nos tem acompanhado. Desta vez, ressaltam aspectos de “etiqueta” que Jesus aprofunda através da higiene espiritual que devemos cuidar.

Conforme a tradição dos antigos
Todas as cerimónias requerem os seus rituais que procuram dar sentido à essência do que se celebra/festeja em comum. Os fariseus e os judeus eram zelosos dessas tradições, ao cumprirem fielmente os costumes prescritos. O facto de alguns dos discípulos de Jesus comerem com as mãos impuras, sem as lavar, violava a tradição e, por isso, tal desleixo questiona os fariseus. Os discípulos tinham aprendido de Jesus que Deus não é um burocrata caprichoso, mas um Pai que recebe feliz a espontaneidade e a fantasia do amor.
Na realidade, a tradição pode aprisionar-nos quando a meta é o cumprimento do ritual e não a essência da celebração. A tradição, os costumes, mais do que obrigação, devem ser caminho para o encontro com Deus e com os irmãos. Quando isso não acontece, urge redireccionar o caminho para o centro, o núcleo em torno do qual gravitamos. Cristo não viola a lei, coloca sim o foco no coração do homem e não em rituais exteriores.

Coração longe de Deus
Um coração preocupado com o tempo, os protocolos, as “etiquetas”, as tradições e os costumes, acaba por se distanciar de Deus. No banquete com o Senhor deve bastar-nos a Sua presença. Quantas vezes nos prendemos nos julgamentos do que se faz e deve fazer, do que não se fez e se devia ter feito, e esquecemos o encontro verdadeiro, livre, humilde, simples com Ele. Afinal, é por Ele que estamos e caminhamos, ou para simplesmente cumprir a lei? Será vão o nosso culto, sempre que não centramos o nosso coração em Deus e nos deixamos prender por aspectos superficiais. A nossa evangelização não passará de uma propaganda vazia ou de uma obrigação pesada, sempre que colocarmos no centro as actividades e os métodos. “O nosso programa é Jesus Cristo” (João Paulo II).

O que sai do homem é que o torna impuro
Não são poucas as vezes que justificamos as nossas falhas com as falhas dos outros. Se Cristo não me habita, o meu coração será impuro, as minhas mãos impuras, os meus actos impuros. Pode a vida provar-nos com a cruz mais pesada e difícil, mas ao permanecer em Cristo, seremos perfume do seu amor, fragrância do seu coração manso e humilde. Semeamos o que deixamos que o Senhor lance no nosso coração. Cuidemos a nossa higiene espiritual na Eucaristia fonte de graça e alimento e na Penitência abraço regenerador. As nossas mãos estarão puras quando deixarmos que seja Deus a agir em nós. O nosso coração estará nele, quando o nosso olhar contemplar o amor maior.
A verdadeira e única tradição dos cristãos é o amor. Jesus ensina-nos a amar, a permanecer em Deus, a cuidar um coração puro e disponível, a viver a Boa Nova, o Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Quero centrar o coração no Senhor e farei por encaminhar tudo para o encontro com Ele.


REZAR A PALAVRA
Senhor… perdoa-me o movimento maquinal dos lábios, as orações vazias,
poluídas de superstições... o resíduo do coração que se perdeu pelos caminhos.
Perco o fogo da minha entrega nas camadas de burocracias que me enredam.
Hoje quero oferecer-te a vida inteira, sorridente, liberta das peias do legalismo.
Quero que os rituais sejam dinamismo, marca requintada do meu genuíno amor,
que os sinais sejam condimento à beleza da peregrinação até à tua suma Beleza!
Quero passar além dos sinais, percorrendo-os na avidez de chegar a Ti!

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