quinta-feira, 9 de agosto de 2012

XIX Domingo Comum B


Naquele tempo, os judeus murmuravam de Jesus, por Ele ter dito: «Eu sou o pão que desceu do Céu». E diziam: «Não é Ele Jesus, o filho de José? Não conhecemos o seu pai e a sua mãe? Como é que Ele diz agora: ‘Eu desci do Céu’?». Jesus respondeu-lhes: «Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, não o trouxer; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia. Está escrito no livro dos Profetas: ‘Serão todos instruídos por Deus’. Todo aquele que ouve o Pai e recebe o seu ensino vem a Mim. Não porque alguém tenha visto o Pai; só Aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. Em verdade, em verdade vos digo: Quem acredita tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. No deserto, os vossos pais comeram o maná e morreram. Mas este pão é o que desce do Céu, para que não morra quem dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei-de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo». (Jo 6, 41-51)

Caros amigos e amigas, este texto é um autêntico banquete que Deus oferece à nossa fome e sede de amor e onde o mais delicioso e nutritivo manjar é Ele mesmo. Vinde, saboreemos, alimentemo-nos e vivamos!

Serão todos instruídos por Deus
Apreciemos a agilidade dos Judeus perante as palavras desconcertantes daquele Rabi poético. Estamos habituados a isto todos os dias… a que todos opinem sobre tudo e todos, sobre o que se sabe, ou sobre o que se adivinha. Parece que já nem importam tanto os conteúdos das mensagens, temos pressa das opiniões! E Jesus propõe-nos a amorosa instrução do Pai, como a única capaz de nos transportar aos arroios da Vida e da Verdade. Jesus desafia-nos a um compromisso íntegro com a Vida e com a Verdade… que são Ele mesmo. As elaboradas reflexões que fazemos, os infindáveis conhecimentos que acumulamos sem consulta Àquele que tudo conhece, deixam-nos ficar no limiar da Vida e da Verdade, sem entrar no sabor da sua profundidade.

Quem acredita tem a vida eterna
Não ligamos à profecia de uma semente que germina, nem à do sol que rebenta os muros da noite… Só damos credibilidade a um profeta que se evidencie de forma insólita, que caia do céu aos trambolhões? Parece-nos indigna a profecia doméstica, estéreis de mensagem os detalhes da vidinha trivial. Não damos crédito a uma mensagem aflorada nos olhos daqueles com quem privamos todos os dias e que conhecemos de “ginjeira”... Este Jesus de quem conhecemos o pai e a mãe… como acreditar que tenha descido do céu? Precisamos de ver para crer. Mas ver o quê, se desprezamos os sinais? Tu, meu irmão, és uma carta onde Deus me escreve o seu amor, o teu rosto veio do céu e é mais significativo que o brilho das estrelas distantes; os teus defeitos e virtudes são um espaço onde Deus me educa e me acarinha e onde me chama à sua Vida.
Tudo veio do céu! Tudo o que me rodeia é linguagem, instrução de Deus. Jesus classifica o acreditar como a obra de Deus. De facto, não é fácil acreditar, pois significa perder-se naquilo ou naquele em que se acredita. Acreditar é lançar-se como crédito, na conta de alguém… Acreditar em Deus é lançar-se na sua Vida. Só aquele que acredita em Deus tem a Vida de Deus, porque a aceita, porque a assume.

Sou o pão vivo que desceu do Céu
O choque desta mensagem, aparentemente descabida, caía sobre um povo ainda não habituado a que um Deus imenso, longínquo e transcendente pudesse assumir a matéria criada, vestir-se dela... Os Evangelistas registam diversos banquetes em que Jesus participa. Todos eles têm a marca do requinte de alguém que sabe saborear. Jesus aplica-se a degustar tudo o que o rodeia, o sabor que o outro tem dentro.
Amigos e amigas, vejamos como Deus tem apurado o sentido do sabor! Desde o princípio Ele se delicia com a bondade e a beleza do universo que criou: “E Deus viu que era bom!” É este o Deus que quer ser saboreado pelas suas criaturas! Um Deus que, além do espiritual, também toca o mais humano, que quer deixar-se experimentar pelos nossos cinco sentidos, fazendo-se pão e vinho verdadeiros. Jesus é, realmente, pão e vinho para ser comido e bebido, mastigado, digerido e assimilado no metabolismo de quem d’Ele se alimenta. A Eucaristia é assim esta imensa possibilidade de eu comer a sabedoria, a bondade, a beleza, o amor… a vida de Deus e eu ficar incorporado na sua vida e Ele na minha. Tal invenção só poderia provir da loucura do amor de Deus. Ápice de todas as maravilhas da história da salvação, tesouro da Igreja, a Eucaristia é o inefável estratagema divino que atinge aquela ambição desmedida de o amante se transformar no amado…
E nós?! Estaremos dispostos a colocar também a nossa vida como alimento deste banquete?! Quem d’Ele participa não tem alternativa! E dar-se em alimento é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou encontrar um tempo de silêncio para melhor saborear a presença de Jesus como alimento.

REZAR A PALAVRA
Senhor, trigo novo, pão amassado pela certeza de fazer a vontade do Pai,
acolhe a minha fome, o meu vazio, a minha insegurança e os meus medos.
Preciso do teu pão, preciso de ti, da tua força, da tua sabedoria, do teu perdão.
Amassa o meu murmúrio no teu amor e transforma-o em sabedoria,
para poder saborear o mistério desse pão que desce ao meu encontro!

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