quinta-feira, 23 de agosto de 2012

XXI Domingo Comum B


Naquele tempo, muitos discípulos, ao ouvirem Jesus, disseram: «Estas palavras são duras. Quem pode escutá-las?». Jesus, conhecendo interiormente que os discípulos murmuravam por causa disso, perguntou-lhes: «Isto escandaliza-vos? E se virdes o Filho do homem subir para onde estava anteriormente? O espírito é que dá vida, a carne não serve de nada. As palavras que Eu vos disse são espírito e vida. Mas, entre vós, há alguns que não acreditam». Na verdade, Jesus bem sabia, desde o início, quais eram os que não acreditavam e quem era aquele que O havia de entregar. E acrescentou: «Por isso é que vos disse: Ninguém pode vir a Mim, se não lhe for concedido por meu Pai». A partir de então, muitos dos discípulos afastaram-se e já não andavam com Ele. Jesus disse aos Doze: «Também vós quereis ir embora?». Respondeu-Lhe Simão Pedro: «Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus».

Caros amigos e amigas, o texto de hoje desfecha o resultado do longo “discurso do Pão do Céu”. Este, à primeira vista, parece um fiasco e a declaração final de Pedro apenas um “sucesso residual”. Mas Jesus conhece bem a linguagem da semente. Falou em pão, fez sementeira e… as sementes são sempre pequeninas!

Um discurso escandaloso
Um qualquer pregador esperaria aplausos e gestos de aprovação; Jesus leva com uma razia de protestos.
Estas palavras impopulares desfalcam o grupo dos que se diziam discípulos. E, porém, não vemos aqui um Mestre prostrado em lamentos. Jesus não está apostado num recrutamento de fãs superficiais, mas na sementeira árdua de discípulos. Ele não fala com “paninhos quentes” para camuflar a exigência; a Verdade, que é Ele mesmo, não ondula ao sabor das nossas pressões, nem se define por sondagens à opinião pública. Jesus não busca a nossa admiração, o nosso louvor, o nosso trabalho, um desempenho impecável… nem sequer a nossa, às vezes vaidosa, virtude; Jesus busca-nos a nós a fim de permitirmos ao Pai que complete em nós a obra da criação. E esta obra vai muito além da “carne” até à vida eterna. Jesus é aquela Palavra eterna, criadora, proferida pelo Pai, que, mediante a fé, dentro de nós desenvolve a gestação do “homem novo”.
Amigos e amigas, precisamos de definir muito bem onde estamos e, se estamos com Ele, temos de aceitar a ferida da sua Palavra que nos desinstala e nos abre um caminho muito claro de conversão.

Também vós quereis ir embora?
Esta pergunta é, ao mesmo tempo, severa e doce; repreensão de força e pedido de fraqueza. De força porque Jesus é o que É e não muda para nos “fazer o favor”. Não é esse o seu modo de nos conquistar, com o suborno fácil ou com a cedência a qualquer tipo de chantagem. Esta pergunta é também uma manifestação da fraqueza do amor, que nos pede para reconsiderar a ruptura com Ele. É que Ele, decididamente, não quer que partamos, ardentemente nos quer junto de Si, pois sabe que sem Ele nada podemos fazer. Mas nós só podemos estar com Ele se for de forma totalizante. Ele não quer discípulos em part-time. Dá-nos a liberdade de ir ou ficar, mas tem o seu regaço aberto para nós, mortinho por nos franquear a sua vida.
Ao fazer esta pergunta directa e interpelante, imagino o olhar de Jesus, irradiante de sedução. Era naquele mesmo olhar que o pescador Pedro tinha experimentado o mergulho mais ousado da sua vida. Para alguns discípulos oportunistas, a oportunidade de êxito temporal acabava ali. Mas Pedro já se tinha afundado naquele olhar e sabia da vastidão que se agigantava para lá daquela superfície…

Para quem iremos, Senhor? Tu tens … Tu és…
A constatação de Pedro toca o fundo do coração do discípulo. Para além d’Ele não há mais nada, não há mais ninguém; Jesus é a única meta que pode escolher aquele que quer ir até ao fim. Ele é o único descanso que toda a inquietação anseia encontrar. Ele é a beleza que encerra toda a beleza. Se eu tiver o seu rosto a fulgurar ante os meus olhos, a energia do meu andar nunca esmorecerá; se eu souber para que meta caminho, farei por corrigir os desvios dos meus passos. Precisamos constantemente de olhar para Ele, centrar n’Ele toda a ambição e as energias da vida. Precisamos de nos implantar no terreno da sua Palavra, ganhar raízes até ao seu coração, para resistir a todas as enxurradas de egoísmo! As palavras que apelidamos de duras, têm a firmeza do caminho seguro, a consistência da rota certeira. Amigos e amigas, a Palavra é Ele, mas Ele quer escrever-se em nós. Deixemos que, no papel da nossa existência, Ele imprima a força e a beleza do Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Quero conhecer melhor a Palavra de Deus que me dá vida!


REZAR A PALAVRA
Senhor, propões um caminho exigente, uma prova difícil, uma fasquia bem alta.
São duras as tuas palavras, porque ferem a frieza e a dureza do meu coração
e desinstalam o sossego estéril do meu sentir. Inflama a minha carne
 do teu Espírito, ajuda-me a calar os ruídos que me impedem de te ouvir
e fortalece os músculos adormecidos do meu coração, para acolher de ti
as palavras que me saciam e dão vida. A quem irei, Senhor, senão a ti?

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