Naquele tempo, aproximaram-se de
Jesus uns fariseus para O porem à prova e perguntaram-Lhe: «Pode um homem
repudiar a sua mulher?». Jesus disse-lhes: «Que vos ordenou Moisés?». Eles
responderam: «Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio, para
se repudiar a mulher». Jesus disse-lhes: «Foi por causa da dureza do vosso
coração que ele vos deixou essa lei. Mas, no princípio da criação, ‘Deus fê-los
homem e mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e
os dois serão uma só carne’. Deste modo, já não são dois, mas uma só carne. Portanto,
não separe o homem o que Deus uniu». Em casa, os discípulos interrogaram-n’O de
novo sobre este assunto. Jesus disse-lhes então: «Quem repudiar a sua mulher e
casar com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher repudiar o
seu marido e casar com outro, comete adultério». Apresentaram a Jesus umas
crianças para que Ele lhes tocasse, mas os discípulos afastavam-nas. Jesus, ao
ver isto, indignou-Se e disse-lhes: «Deixai vir a Mim as criancinhas, não as
estorveis: dos que são como elas é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem
não acolher o reino de Deus como uma criança, não entrará nele». E,
abraçando-as, começou a abençoá-las, impondo as mãos sobre elas.
Fiel ao amor do Pai, Jesus bebe
dessa fonte de bem e ensina-nos, neste Domingo, a beleza e o desafio da
comunhão. Num convite a derrubar a dureza do nosso coração, o Senhor apresenta
o amor fiel como caminho simples e verdadeiro para a felicidade.
Dureza do vosso
coração
Jesus,
mestre supremo, acolhe as dúvidas e preocupações dos fariseus como ponto de
partida para uma catequese sobre o respeito e a comunhão. O projeto original de
Deus convida à fidelidade e à igualdade de direitos. Confrontado com a questão
do repúdio das mulheres, inscrita na lei, não pela sua essência mas pela dureza
do coração dos homens, Jesus propõe a aliança como caminho e meta. Deus quer
uma vida mais digna e segura para as esposas mal tratadas pelo homem que se foi
baseando na lei da superioridade masculina. Hoje, seguidores de Jesus Mestre,
não podemos legitimar nada que promova a discriminação ou exclusão da mulher.
Jesus continua a propor-nos que renunciemos à “dureza do nosso coração”,
impermeável à bondade e ao diálogo.
Não separe o homem
o que Deus uniu
Falar de
fidelidade, de compromisso, parece já não ser tema. Também no tempo de Jesus
surge a necessidade de recordar a importância da união matrimonial. Se
acreditamos que Deus nos ama e em tudo concorre para nosso bem, porque tendemos
a destruir o que pelas Suas mãos constrói? Porque teimamos em separar o que Ele
uniu? Ou não foi Ele que criou os laços que nos pertencem?
Podemos
considerar o amor espontâneo, como algo que vem e vai, sem raiz, em que a
primeira tempestade deita por terra o pouco que foi construído. Será esse o amor
que Deus derrama em nossos corações?
Podemos afirmar
que o casal não se basta a si e é sempre natural encontrar fora dele, algo mais
que sacie os seus desejos pessoais. Será essa a fidelidade que o Senhor nos
ensina?
O amor
verdadeiro, que se prova na dúvida, na dor e no tempo, jamais passará. É esse o
único amor. Aquele que permanece na tempestade, porque enraizado numa relação a
três: ele, ela e Deus. Quando Deus constrói o amor, ele permanece. Quando não
há Deus, também não há amor…
Deixai vir a mim as
criancinhas
Tal como
os discípulos, também nós estorvamos, por vezes. Não somos sinal, instrumento
que conduz a Deus. Interrompemos a corrente de amor, que nasce do coração de
Deus, com os nossos julgamentos, desejos e interesses. Esquecemos o diálogo
como fermento de comunhão. Esquecemos o olhar, como estrada para o perdão.
Esquecemos o abraço, como porta do coração. Esquecemos a palavra dada, o
compromisso, o fulgor e a paixão do início, porque deixamos o nosso coração de
pedra ficar de plástico para ser deitado fora. Aprendamos com Jesus, a
simplicidade das crianças, o acolhimento, a fidelidade. Aprendamos com Jesus a
construir um coração de carne, atento, fiel. Sejamos crianças, dóceis, sedentas
do verdadeiro amor que nos faz crescer. Sejamos crianças, sinceras,
transparentes, fiéis ao amor. Sejamos Evangelho!
VIVER
A PALAVRA
Vou
procurar encarnar o espírito de simplicidade e verdade, para acolher Deus e os
irmãos.
REZAR
A PALAVRA
Pai amoroso e fiel, mistério de Pai e de Mãe, que nos abraças no teu amor,
Tu colocaste no homem e na mulher o teu património de vida
e, na verdade da sua relação, a expressão do teu amor fecundo,
Te damos graças porque, em Jesus, celebras os esponsais com a
humanidade.
Que os conjuges, na sua idividualidade conjugada, proclamem
a beleza do teu amor, a solidez da tua fidelidade e a
fecundidade da tua vida.
Que cada um de nós, abraçando a simplicidade da infância,
possa ser intérprete, junto dos irmãos, do Teu acolhimento e
entrega.
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