Naquele tempo, quando Jesus ia a
sair de Jericó com os discípulos e uma grande multidão, estava um cego, chamado
Bartimeu, filho de Timeu, a pedir esmola à beira do caminho. Ao ouvir dizer que
era Jesus de Nazaré que passava, começou a gritar: «Jesus, Filho de David, tem
piedade de mim». Muitos repreendiam-no para que se calasse. Mas ele gritava
cada vez mais: «Filho de David, tem piedade de mim». Jesus parou e disse:
«Chamai-o». Chamaram então o cego e disseram-lhe: «Coragem! Levanta-te, que Ele
está a chamar-te». O cego atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus.
Jesus perguntou-lhe: «Que queres que Eu te faça?». O cego respondeu-Lhe: «Mestre,
que eu veja». Jesus disse-lhe: «Vai: a tua fé te salvou». Logo ele recuperou a
vista e seguiu Jesus pelo caminho.
Caros amigos e caras amigas, no
início da vivência do Ano da Fé, esta cena surge-nos como uma oportunidade para
aferirmos a nossa resposta ao dom e ao desafio do nosso batismo, é um convite à
peregrinação, é uma interpelação à sede da luz…
…pedir
esmola à beira do caminho
O texto começa
por descrever a situação do pobre cego, imerso na passividade. Está parado,
dependente e insuficiente. Está à beira do caminho, e ali podia continuar,
assistindo ao rumor da multidão que passa, não lhe interessando quaisquer sons,
senão o das moedas a tilintar na escudela. Podemos reconhecer-nos neste cego,
parado e pedinte, porque sabendo nós bem como é preciosa a visão, não é tão
óbvio atinar que tenhamos falta dela. Podemos até conviver bem com a cegueira,
ancorados à noite, ou à fixidez dos nossos critérios, vivendo a vida que nos
sobra dos outros, dependentes do que o movimento dos outros nos dita, abrigados
sob a capa de tantas escravidões. A visão traz-nos desafios; levantar-nos e
atirar com a capa, exige coragem!
Jesus
caminha, o cego está à beira do caminho. É cego, mas um sentido ele tem:
“ouviu”. “Ouviu dizer”, talvez também tenha ouvido caminhar. E àquele homem,
que ouve e lê o som dos passos de Jesus, deixam de bastar as esmolas da terra,
o caminhar dos outros e o negrume da noite. Tudo começa com a escuta atenta. Se
ouvimos o som dos passos de Jesus, pode acontecer que o nosso coração comece a
bater em uníssono com o seu ritmo caminhante. Jesus é o divino viandante que
convoca a nossa capacidade de locomoção. Ele é Aquele que questiona a nossa inércia.
Ele é Aquele que traz a luz e alvoroça a noite. Ele é o único que tem a meta!
Um
grito e um salto
A
decisão do cego move-se entre atitudes controversas com as quais também nos
podemos identificar. Ordenavam-lhe que se calasse. Controlam a agenda de Jesus,
fazem a triagem sobre quem deve ou não “incomodar” Jesus e quando. Mas todo o
ser humano deve ter espaço para um grito e um salto que chegue ao céu. Se Jesus
é Aquele que caminha sempre e que responde a uma urgência, Ele nunca leva
pressa. A urgência de Jesus é cada um de nós, porque é a urgência do amor, a
única urgência da vontade do Pai: salvar-nos, convidar-nos a fazer caminho. Jesus
gosta de ser incomodado. A melodia de uma caminhada deve ser embelezada com
pausas e com o contraponto de encontros, harmonizada com mediações. Jesus diz: “Chamai-o”…
a divina delicadeza de nos fazer participantes dos seus milagres! Em cada um de
nós Ele delega um detalhe da sua missão salvadora. Somos portadores da mensagem
que é segredo da salvação. Não são os nossos gestos que salvam, mas têm a
missão de apontar a salvação: “Coragem! Ele está a chamar-te”.
Vai:
a tua fé te salvou
Mas o grito
do cego não vai logo direto ao assunto, parece ser ambíguo: “Tem piedade de mim!”
é um pedido que pode ter muitas leituras. Não queria ele a visão? Porque
rodeia? O cego não apresenta a Jesus uma cegueira localizada, mas o complexo de
cegueiras de todo o seu ser. É este o segredo da fé: lançar-nos por inteiro nas
soberanas e sapientes mãos de Jesus. O cego não deu instruções de cura ao
curador… mas confiou. Porém, bem sabia qual era o seu ponto fraco… Os milagres
de Jesus são milagres porque demandam fé, uma confiante entrega. Não há
automatismos. A fé é a porta que abre a salvação! Quando alguém recupera a
vista não mais quer perder a luz, por isso o cego seguiu Jesus, seguiu a fonte
da Luz.
Caros
amigos e amigas, há homens e mulheres sentados à beira do caminho que leva a
Jerusalém. A sede encardida à beira da fonte, os passos cativos à beira do
caminho, os olhos vedados sob o calor da luz. E a interpelação da nossa fé tem
de nos levar a ter e a dar coragem pois há um chamamento, há Evangelho!
VIVER
A PALAVRA
Vou
estar atento às passagens de Jesus pela minha vida mesmo quando me encontro à
beira do caminho.
REZAR A PALAVRA
Senhor, sentado na berma da vida, aqui onde a história revela o
meu nada,
grito a sede que me sufoca, pois não sei calar a necessidade que
tenho de Ti.
Senhor, sentado à beira do caminho, aqui onde a sombra revela a
solidão,
espero a luz que rompe a minha dúvida e ao procurar-Te sei-me
procurado...
Quero ver-Te, Senhor, quero abraçar a vida, sentir a cor e
saborear a luz!
Quero ver-Te, Senhor, quero deitar fora a escravidão e fazer
caminho!
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