quinta-feira, 11 de outubro de 2012

XXVIII Domingo Comum B


Naquele tempo, ia Jesus pôr-Se a caminho, quando um homem se aproximou correndo, ajoelhou diante d’Ele e perguntou-Lhe: «Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?». Jesus respondeu: «Porque Me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. Tu sabes os mandamentos: ‘Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’». O homem disse a Jesus: «Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude». Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu: «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me». Ouvindo estas palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se pesaroso, porque era muito rico. Então Jesus, olhando à sua volta, disse aos discípulos: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!». Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas Jesus afirmou-lhes de novo: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus». Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode então salvar-se?». Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível». Pedro começou a dizer-Lhe: «Vê como nós deixámos tudo para Te seguir». Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: Todo aquele que tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna».

Caros amigos e amigas, poderíamos ler o Evangelho de modo que as palavras de Jesus continuassem a admirar-nos, a perfurar-nos, a obrigar-nos a opções concretas para a vida, tantas vezes deixada ao sabor do imediato! Todos temos anseios de bem e de beleza. Mas que bem é que buscamos?

Porque me chamas bom?
A pergunta de Jesus soa-nos estranha. Então Ele não é bom?! Provavelmente aquele jovem busca Jesus como se fosse mais uma peça para adicionar à sua coleção de “valores”. Jesus desengana-lhe a perspetiva, deixando a Deus a exclusividade do adjetivo bom. Se não há Deus, não há bom, porque é Deus que dá o valor e a bondade ao bem… mesmo ao cumprimento dos mandamentos! Jesus desconcerta as nossas noções de bondade, epidérmicas, relativas e viciadas. Ele mostra-nos que a bondade se situa num patamar que nos obriga a uma “peregrinação”, ao mesmo tempo gozosa e dolorosa. Jesus, assim buscado pelo jovem, não fica bem entre o mofo das suas coleções, como soma do seu património. Jesus não pode ser buscado como mais um, Ele é a peça que completa, a única que falta e a que dá valor a tudo o mais.

Faltava-lhe uma só coisa
Uma coisa? Mais nada?! Faltar uma só coisa é fácil, pensará este jovem, certamente bem intencionado, que já conseguiu tantas “coisas”! E depois depara-se com a realidade: o que lhe falta é realmente tudo.
Nós queremos ter tudo e… ter Deus também, não propriamente que Deus nos tenha. E depois acabamos por ficar possessos dos bens. O jovem mostrou que, mais do que possuir bens, eram os bens que o possuíam, pois não o deixaram desprender as asas. Jesus convida-nos a alargar os horizontes das nossas ambições e dá-nos o segredo para ter tudo: abandonar-nos a Deus. O reconhecido “gestor de bens” S. Francisco de Assis, confirma a receita: “Nada de vós mesmos retenhais para vós, a fim de que totalmente vos possua Aquele que totalmente a vós se dá”. Possuir Deus é deixar que Deus me possua e me ame, ainda que tenha de vender e dar. E isso não é empobrecer, é a inteligência de desobstruir o caminho para o amor de Deus. É apenas do colo de Deus que manam os bens de primeira necessidade… a vida e o amor. Cingidos a Ele é possível agarrar a luz de cada dia, resplandecer com o olhar do outro, partilhar a riqueza da terra, navegar nos mares das relações, sorver a beleza que nos envolve, sorrir a um universo inteiro, abrigar-se sob o azul do céu, saciar-se da alegria… Tudo isso e mais… não pode ser pago com qualquer riqueza: é a conta de um amor exorbitante.

Um tesouro único, neste olhar único
É difícil de ouvir a Jesus que ninguém se pode salvar. E nós achamos que sim, que controlamos a nossa salvação, com alguma reserva de valor. Até o espontâneo Pedro, depois de tudo que ouviu, faz notar a Jesus o seu despojamento para O seguir, como se essa fosse ainda uma moeda de troca para outra recompensa, como se estar com Jesus não fosse bastante, como se Ele não fosse a saciante recompensa!
Por duas vezes neste texto o olhar de Jesus irrompe como um fogo. Amigos e amigas, como posso não me deixar possuir por este olhar único, que repara em mim, não me ignora, acredita em mim e me promove? Este olhar contém as possibilidades de todos os impossíveis; é o olhar do Criador que vê o bem, que se deleita na sua obra, que não cessa de embelezar e enriquecer o meu ser e que quer fazer de mim o seu Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou parar para descobrir onde está o meu tesouro e o que está contido nele.


REZAR A PALAVRA
Senhor, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna? Como chegarei à felicidade?
Embala-me uma sede infinita de paz, uma vontade firme de ser melhor,
 o desejo da eternidade. Procuro em Ti esse caminho, a receita, o segredo do amor!
Entregas-me a proposta do deixar, da partilha, do ter-te como único tesouro.
Lanças-me o desafio sempre novo da renúncia, porque só Tu me podes bastar.
E eu, talvez triste, fixo-me no que deixo, e não olho ao que ganho, com o Teu abraço!

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