Quando chegaram ao lugar chamado
Calvário, crucificaram-n’O a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à
esquerda. Jesus dizia: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem». (…) Os
chefes zombavam e diziam: «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o
Messias de Deus, o Eleito». Também os soldados troçavam d’Ele; (…) diziam: «Se
és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo». (…) Entretanto, um dos malfeitores
que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo: «Não és Tu o Messias?
Salva-Te a Ti mesmo e a nós também». Mas o outro, tomando a palavra,
repreendeu-o: «Não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós,
fez-se justiça, pois recebemos o castigo das nossas más acções. Mas Ele nada
praticou de condenável». E acrescentou: «Jesus, lembra-Te de mim, quando vieres
com a tua realeza». Jesus respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás
comigo no Paraíso». Era já quase meio-dia, quando as trevas cobriram toda a
terra, até às três horas da tarde, porque o sol se tinha eclipsado. O véu do templo
rasgou-se ao meio. E Jesus exclamou com voz forte: «Pai, em tuas mãos entrego o
meu espírito». Dito isto, expirou. Vendo o que sucedera, o centurião deu glória
a Deus, dizendo: «Realmente este homem era justo».
Caros amigos e amigas, a leitura deste Domingo é o coração do Evangelho:
narra a paixão de um Deus apaixonado pelo homem, que morre por amor. Jesus transcreve, na sua nudez crucificada, o
verdadeiro rosto de Deus, na certeza que o grão caído por terra dá muito fruto!
“Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti
mesmo e a nós também”
Jesus é a história do amor que encontra o homem. No alto
da cruz, parece que o amor se faz fraco, vencido e aniquilado, silencioso, sem
forças, incapaz de descer da cruz para se salvar a si mesmo. Ali o amor faz-se
apenas amor! Um amor capaz simplesmente de amar! Mas o amor é criativo e fecundo:
a sua maior prova é quando dá a vida. No calvário, o Amor de Jesus abraça a
cruz porque nela abraça as cruzes de cada filho. Deus entra na morte porque na
morte entra também cada um dos seus filhos.
Na cruz, Deus não grita belas palavras ou teorias, mas
assina com a própria vida todo o Evangelho, rubrica com o seu sangue todo o seu
amor. Deus “crucifica” o seu amor para que não fiquem dúvidas! Naquela “árvore
da vida”, Deus “vinga-se” definitivamente da distância, da indiferença, da
separação: nada o impedirá de ser o Emanuel, o “Deus connosco”, para sempre.
Nem mesmo a morte nos poderá separar!
A beleza de Cristo na cruz reside em ter transformado o sofrimento
num acto de amor: a cruz é um convite radical a não sofrer, mas a amar sempre, incondicional
e infinitamente, mesmo até ao preço da vida.
“Hoje estarás comigo no Paraíso”
Miraculosas
palavras que escancaram as portas dos céus! Maravilhosa garantia que afirma que
a terra deixará de ser um enorme vale de lágrimas! Porque Deus se esquece de si
mesmo para salvar quem lhe morre ao lado! Até na agonia, num último grito, Ele
não se preocupa consigo, mas com o condenado sedento de esperança. Naquele
malfeitor, estamos nós, suplicando a nostalgia de Deus, para que se recorde de
nós, para que se lembre do sonho e do amor com que nos fez, para que não
abandone à tragédia e ao esquecimento a sua criatura. As palavras de Jesus
confirmam que, até no último limite humano, o homem pode ser salvo, pode ser
amado! Ninguém está perdido para sempre, nem ninguém se pode afastar tanto que
não possa ser alcançado pelo seu amor.
“As trevas cobriram a terra do
meio-dia até às três da tarde”
Talvez
estas 3 horas sejam as mais escuras de toda a Bíblia. Mas são iluminantes: as
trevas ficam reduzidas àquele horário apertado, circunscritas entre duas
fronteiras intransponíveis, limitado tempo em que foi concedido à escuridão de roçar
a terra. Aquelas horas são as margens que delimitam o rio das lágrimas humanas,
as barreiras entre as quais se consomem todas
as agonias dos filhos. Dentro de pouco tempo, a
escuridão dará lugar à luz, a terra reconquistará as suas cores e o sol da
Páscoa irromperá entre as nuvens em fuga (Tonino Bello). O amor derrota o pecado, vence os medos e faz-nos ver a tristeza, a doença e até a morte, do lado certo: o do “terceiro dia”. E as marcas deixadas, nas nossas mãos pelos
pregos, serão as brechas através das quais veremos as luzes de um
novo mundo. Esta é, caros amigos e amigas, a fé do
Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Quero ler no sinal máximo do amor, que é a Cruz, o roteiro para a minha
forma de amar.
REZAR A PALAVRA
Deixo ressoar, no silêncio do
meu espanto, esta palavra que descreve o Amor!
A tua história de amor
avizinha-se das minhas traições, violências, medos,
cobardias...
O teu amor percorre o meu
caminho de sonolências, apatias e negações, a chamar-me.
O teu amor desafia à beleza este
mar de sofrimento onde também eu me banho.
Que amor imenso, Senhor! Curvo
perante o teu amor, a minha presunção tão vazia,
Estendo os braços da minha
fragilidade para o teu regaço acolhedor.
Agarro-me a este jorro de sangue
que brota generoso do teu coração aberto.
Hei-de alcançar a brecha.
Obrigado, Senhor, por abrires o coração e me convidares a entrar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário