A Pietá da Catedral de Bragança
Carregas a nossa humanidade até ao fundo do teu colo
As cidades íngremes por onde passamos, as sirenes empastadas de alarme,
O peso do corpo anoitecido
Não há árvore do horto de Deus que ao alto mais pura se eleve
Mas é doloroso trabalho o do amor em que inteira brilhas
Ó Mãe indefesa como um fogo
Passas por nós devagar as mãos protetoras
E o tempo desse amor transparente e íntimo
torna brandas as tempestades em que nos consumámos
Chovemos no teu regaço a nudez dos nossos sonhos
tatuados a cinza trémula e a vazio
Mas degrau a degrau, cambaleantes subimos
Quando inclinas para nós o manto, espaço da visão aberta
Consola-nos o abraço do teu silêncio em flor
E a canção do teu sorriso nos reergue
O milagre se faz ver no fruto do teu ventre
Em ti começa a palavra prometida e plena
Por isso festejamos a roda do teu colo
José Tolentino Mendonça
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