Naquele tempo, Jesus foi para o
monte das Oliveiras. Mas de manhã cedo, apareceu outra vez no templo e todo o
povo se aproximou d’Ele. Então sentou-Se e começou a ensinar. Os escribas e os
fariseus apresentaram a Jesus uma mulher surpreendida em adultério, colocaram-na
no meio dos presentes e disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi surpreendida
em flagrante adultério. Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu
que dizes?». Falavam assim para Lhe armarem uma cilada e terem pretexto para O
acusar. Mas Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão. Como
persistiam em interrogá-l’O, ergueu-Se e disse-lhes: «Quem de entre vós estiver
sem pecado atire a primeira pedra». Inclinou-Se novamente e continuou a
escrever no chão. Eles, porém, quando ouviram tais palavras, foram saindo um
após outro, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher, que
estava no meio. Jesus ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém
te condenou?». Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Disse então Jesus: «Nem Eu te
condeno. Vai e não tornes a pecar».
Caros amigos e amigas, o Evangelho de hoje
antecipa a Páscoa e a Ressurreição. De facto, a verdade e a sentença da vida de
cada um não é o pecado e a morte, mas é o amor e o perdão.
Não se salva a vida dos outros sem
dar a própria vida
Uma mulher é arrastada
por uma cega multidão que grita justiça e condenação. Sentenciada de morte é
despida da sua dignidade, vestida apenas do desejo mortífero das mãos cheias de
pedras dos acusadores. O seu nome é o do seu pecado: adúltera! Calada, talvez
nem esteja arrependida. Encontra-se agora sozinha, diante de Cristo, como
pedinte de socorro e mendicante de amor!
Sozinho encontra-se
também Jesus para que ratifique a sentença de óbito. Sentado no chão, o Mestre
sonhará porventura em salvar a desgraçada, mas também os seus acusantes,
enclausurados na cegueira do coração, pois a lei pode denunciar o pecado, mas
nada faz pelo pecador.
Jesus inclina-se,
escreve com o dedo no chão e levanta-se
O Mestre inclina-se para partilhar
toda a miséria humana, para imprimir na terra o sinal da sua presença
salvadora, para inscrever um futuro no coração da mulher e alçá-la à dignidade
de ressuscitada! Jesus inclina-se sobre a nossa existência e grava um
mandamento novo: a lei de Deus não é um preceito que se observa mas é uma
pessoa que se encontra, alguém que se abraça, um irmão que se perdoa, um amigo
que se ama!
No olhar de Cristo, que
não se orienta para o pecado mas vê o coração e o sofrimento da pessoa,
pressente-se o futuro. E se Jesus cala, fala o seu silêncio, que escava nos
lapidadores a recordação da comum fragilidade e que, pacientemente, aguarda o
germinar de uma vida nova.
Nem Eu te condeno. Vai
e não tornes a pecar
No fim todos desaparecem
da cena. “Só ficaram os dois: a pecadora e o salvador, a doente e o médico, a
miséria e a misericórdia” (S. Agostinho). Neste encontro intui-se que a vida,
mesmo a mais desgraçada de todas, esconde um caminho até ali impensável: a
possibilidade do amor!
Jesus
não julga, não banaliza a culpa, não justifica o adultério, não dá sentenças de
morte, mas faz recomeçar a vida. E atribui à adúltera o mesmo título que dá à
sua Mãe, em Canã e no Calvário: Mulher!
Assim recorda à pecadora, e a nós, aquela grandeza que nenhuma culpa pode
destruir. Ninguém é o seu pecado, porque diante de Deus somos renovadamente
mulheres e homens, capazes de viver, capazes de amar. O Criador traça sempre de
novo, em cada um de nós, a rota do céu, reproduz a imagem das origens, aquele
rosto celestial com a beleza original, fruto do seu eterno amor.
A mulher salva por Jesus
é imagem de todos nós, com os próprios “adultérios”. Contudo, o esposo, Cristo,
porque nos ama e espera a nossa conversão, só pode já ter-nos perdoado. E nos
repete aquelas palavras que mudam a morte em vida: “Nem eu te condeno. Vai e
não tornes a pecar”! Este é, caros amigos e amigas, o verdadeiro Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Na praça pública da vida, vou
procurar acolher, mais do que condenar.
REZAR A PALAVRA
Senhor,arrastada
pela montra da crítica e a chuva de julgamentos e condenações,
temo
o depois do agora e do ontem, temo o olhar do juíz, o pesar da balanlça,
porque,
no sempre de cada momento, carrego a certeza das falhas e a luta da cruz.
Que
dizes, Senhor? Que dizes da minha história de solidão e silêncio na praça?
Que
dizes, Senhor? Que dizes das pedras que mantenho em mão para lançar?
“Mulher...
Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar...”!
Nenhum comentário:
Postar um comentário