segunda-feira, 1 de abril de 2013

QUANDO A VIDA NOS ASSALTA


Cfr. Jo 20, 11-18

Maria vem provida para a fúnebre missão…
Carrega a velhice de uma cidade estremunhada
e fecha o futuro sobre a neblina que carpiu.
A névoa escapa-se-lhe, o futuro abre-se
e a infância balbucia…Oh!

Maria irrita-se com a folia do horizonte
e reprime este sol irreverente que brinca na gota de orvalho.
Que luz é esta que lhe desfaz o toucado de noite
em que, cuidadosamente, tumulara os cabelos?
Solta-lhe os cabelos e eles esvoaçam ao porvir…

E que brisa inoportuna lhe enxuga a lágrima, pronta,
depois a seguinte
e esgota o saco lacrimal tão generosamente abastecido?

Maria não vem para uma festa
e a fresta no horizonte alarga-se, alarga-o…

Que perfume novo a envolve em atrevido movimento?
Estraga o aroma dos unguentos lúgubres que lhe pesam…
Maria já confunde luto com luta!

Maria cansa-se e pousa a mágoa, descuidada.
Não reparou nos rastos vivos do chão…
e que a tristeza da mágoa se magoa ao cair.
Porque se escapa esta tristeza que lhe vestira a mágoa?

Maria alça o fardo mortuário e teima o seu propósito.
Mas quando pensa chegar,
sobressalta-a a fonte onde todos os caminhos nascem
e que lhe arrevesam o sentido.

Maria chega ao sepulcro e encontra um leito desfeito,
choca-a um conforto sacudido.
Maria não pode entender a afronta de um cemitério descomposto!
Pensa já consultar um entendido em morgues e em sepulcros,
um necrólogo que lhe dê respostas,
que lhe interprete o espanto e o desconcerto perante a Vida!
Ela pertence a um povo especializado nas coisas da morte.

Maria vem preparada para vasculhar esses mundos da morte
e a Vida assalta-a no encontro mais inopinado da estrada.
A Vida fere-a, depois sedu-la e depois unge-a.
A Vida convida-a a uma dança!
E Maria rende-se, depois bebe, depois naufraga…
E depois dança.

Ah! Então Maria já dança, numa corrida deslumbrada,
Maria embriagada, possuída pela Vida,
vai semeando futuro como um presente…
com uma Presença!

Ir. Maria José Oliveira

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