Cfr.
Jo 20, 11-18
Maria
vem provida para a fúnebre missão…
Carrega
a velhice de uma cidade estremunhada
e
fecha o futuro sobre a neblina que carpiu.
A
névoa escapa-se-lhe, o futuro abre-se
e
a infância balbucia…Oh!
Maria
irrita-se com a folia do horizonte
e
reprime este sol irreverente que brinca na gota de orvalho.
Que
luz é esta que lhe desfaz o toucado de noite
em
que, cuidadosamente, tumulara os cabelos?
Solta-lhe
os cabelos e eles esvoaçam ao porvir…
E
que brisa inoportuna lhe enxuga a lágrima, pronta,
depois
a seguinte
e
esgota o saco lacrimal tão generosamente abastecido?
Maria
não vem para uma festa
e
a fresta no horizonte alarga-se, alarga-o…
Que
perfume novo a envolve em atrevido movimento?
Estraga
o aroma dos unguentos lúgubres que lhe pesam…
Maria
já confunde luto com luta!
Maria
cansa-se e pousa a mágoa, descuidada.
Não
reparou nos rastos vivos do chão…
e
que a tristeza da mágoa se magoa ao cair.
Porque
se escapa esta tristeza que lhe vestira a mágoa?
Maria
alça o fardo mortuário e teima o seu propósito.
Mas
quando pensa chegar,
sobressalta-a
a fonte onde todos os caminhos nascem
e
que lhe arrevesam o sentido.
Maria
chega ao sepulcro e encontra um leito desfeito,
choca-a
um conforto sacudido.
Maria
não pode entender a afronta de um cemitério descomposto!
Pensa
já consultar um entendido em morgues e em sepulcros,
um
necrólogo que lhe dê respostas,
que
lhe interprete o espanto e o desconcerto perante a Vida!
Ela
pertence a um povo especializado nas coisas da morte.
Maria
vem preparada para vasculhar esses mundos da morte
e
a Vida assalta-a no encontro mais inopinado da estrada.
A
Vida fere-a, depois sedu-la e depois unge-a.
A
Vida convida-a a uma dança!
E
Maria rende-se, depois bebe, depois naufraga…
E
depois dança.
Ah!
Então Maria já dança, numa corrida deslumbrada,
Maria
embriagada, possuída pela Vida,
vai
semeando futuro como um presente…
com
uma Presença!
Ir.
Maria José Oliveira
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