Naquele tempo, estava Jesus a
falar à multidão sobre o reino de Deus e a curar aqueles que necessitavam. O
dia começava a declinar. Então os Doze aproximaram-se e disseram-Lhe: «Manda
embora a multidão para ir procurar pousada e alimento às aldeias e casais mais
próximos, pois aqui estamos num local deserto». Disse-lhes Jesus: «Dai-lhes vós
de comer». Mas eles responderam: «Não temos senão cinco pães e dois peixes...
Só se formos nós mesmos comprar comida para todo este povo». Eram de facto uns
cinco mil homens. Disse Jesus aos discípulos: «Mandai-os sentar por grupos de
cinquenta». Assim fizeram e todos se sentaram. Então Jesus tomou os cinco pães
e os dois peixes,
ergueu os olhos ao Céu e
pronunciou sobre eles a bênção. Depois partiu-os e deu-os aos discípulos, para
eles os distribuírem pela multidão. Todos comeram e ficaram saciados; e ainda
recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.
Caros amigos e amigas, na
solenidade que hoje celebramos reconhecemos o imenso dom de Deus que nos
convida também a ser dom, a ser pão com(o) Jesus. Consagrados por Ele somos
Eucaristia!
Eucaristia, sinal
de um Deus solícito
O
milagre da multiplicação dos pães vem na sequência das curas que Jesus está a
realizar. A Eucaristia é o maior dom do amor de Deus, porque é a entrega de Si
próprio. A Eucaristia contém em si e resume os bens excelentes que o Senhor dá
aos seus filhos amados; ela é o sinal de que Deus alimenta o seu povo e está
atento à sua indigência e necessidades.
A cena
passa-se ao entardecer quando as trevas da noite rondam a vitalidade do dia.
Este estado de noite é um sinal da nossa condição peregrina que almeja uma
aurora. A noite é este véu da nossa fragilidade que tacteia o decisivo. A
Eucaristia surge-nos então aqui como um sol que se encontra com as nossas
noites, que preenche de luz os espaços às vezes tenebrosos das nossas dúvidas e
esforços e nos conduz no dia porque nos alimenta d’Aquele que é o Sol Divino…
porque a Eucaristia é Presença!
Partiu-os
e deu-os…
A
Eucaristia é exigência para repartir os bens de Deus. Ela é fracção. Não se
pode entender como algo de compacto, de acumulação de valor. Ela é o centro
onde a dispersão se reconcilia e donde parte a irradiação do dom. Ela pertence
a este dinamismo do amor que não se acumula, que não se deposita. Um depósito
assim, que estagna e envenena, chama-se egoísmo. Só se entende o amor quando é
repartido, quando explode, quando irradia vida para fora de si mesmo. O pão é o
produto daquela longa história de mãos que nas mãos de Jesus encontram
coroamento, é o fruto de um suceder de entregas que culmina na entrega de
Jesus.
Decerto
que os Doze também não teriam o estômago muito provido. Imaginemos o seu
desconcerto quando pensavam exibir a Jesus uma louvável solicitude pelos
famintos e Ele lhes diz: “dai-lhes vós mesmos de comer”. Quantas vezes nos
deixamos ficar pelos piedosos diagnósticos de fomes, sem avançar para a coragem
de nos tornarmos refeição! Eles poderiam ter alegado: “Nós também temos fome!”
Mas para Jesus tal argumento teria uma só solução, porque a sua lógica é esta: a
nossa alimentação passa por dar de comer ao outro. E esta alimentação não se
refere (apenas!) ao alimento exterior, mas o fazer-se alimento. Ser de Cristo é
aceitar fraccionar-se, dar-se em alimento de comunhão. Nós somos o pão partido
de Cristo, a sua viva Eucaristia.
A saciedade e o que
sobra
Jesus
podia ter feito um milagre perfeitinho, com bocados de pão contados e apenas
umas migalhas para os passarinhos. Porquê este “desperdício”? Perguntará Judas
a propósito do perfume derramado. Os doze deparam-se com a trabalheira de ter
de recolher as sobras, cada um em seu cesto, sinal de uma abundância excessiva.
Deus é esta desproporção imensa entre as nossas fomes e a sua misericórdia. Deus
é um esbanjador inveterado, é esta grandeza que não calcula despesas, nem se
deixa estrangular por orçamentos. A medida d’Ele é não ter medida. Amigos e
amigas, não tenhamos medo de abrir o coração às dimensões de Deus para ser
Eucaristia… explosão de Evangelho!
VIVER
A PALAVRA
Vou descobrir o que em mim pode ser pão repartido para os outros.
REZAR
A PALAVRA
Senhor, creio que transformas o deserto em vida, onde a surpresa da ternura
se esconde e confunde a teimosia das fugas. Creio que Te basta o meu pouco
para dele fazeres muito e sobrar em abundância. Senhor, creio que me amas
e, atento à minha fome, te dás em alimento e desejas habitar em mim.
Hoje ajoelho e adoro… Creio que estás em mim, Pão Vivo que desce do Céu.