Na tarde daquele dia, o primeiro
da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se
encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e
disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os
discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de
novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a
vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo:
àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os
retiverdes ser-lhes-ão retidos».
Caros amigos e amigas, os 50 dias do tempo de
Páscoa permitem-nos, à semelhança dos apóstolos no cenáculo, passar do medo
para uma explosão de felicidade. Ainda hoje o dom do Espírito facilita germinar
em nós as sementes de ressurreição e abrir caminhos novos de esperança.
Artista
dos interiores
O Espírito Santo é o
ilustre esquecido da nossa vida de fé, o eterno desconhecido e ausente na nossa
relação com Deus. E, no entanto, Ele está presente, mesmo se discreto. Nunca dá
nas vistas, porque prefere o espaço da interioridade, onde se fazem as
confidências, onde se cria a comunhão, onde se sonha o futuro e se contempla
silenciosamente o essencial. Nunca compra protagonismos nem reclama vaidades.
Talvez seja essa a sua identidade: ser sempre para o outro.
Na Bíblia é chamado de
Consolador (para arrancar qualquer solidão), Vivificador (para mostrar o rosto
de Deus e recordar a sua palavra), Paráclito (para defender do medo) e
reveste-se de formas diversas: vento, fogo, pomba… Ele é o Amor em cada amor, a alma em cada vida, o ar de cada respiração.
Misterioso
respiro de Deus
É através de um sopro que
Jesus transmite aos apóstolos o fôlego que animou a sua vida, a paixão e
energia que o vivificou. Para Deus basta um vento, uma brisa, um sopro vital. E
nós bem sabemos o quanto a nossa vida é frágil e suspensa de um simples
respiro. Pessoa e respiração são inseparáveis, coexistem juntos. Respirar a “atmosfera” de Deus
é viver, sonhar, amar Aquele que se respira! O Espírito Santo é a respiração de
Deus.
Já nas origens Deus
insuflara no barro o seu respiro e o homem tornou-se um ser vivo. Desde então o
Espírito preside a tudo o que nasce, é aquele que dá vida, é a fonte da vida
(Credo). Esta é a tarefa miraculosa e maravilhosa do Espírito: fazer nascer a
vida, mesmo onde aparentemente ela acabou. O Espírito é capaz de tornar
possível o impossível.
Perigo de
incêndio
O Espírito é perigoso,
devastante e inquietante. Quando pensamos que tudo acabou, que o melhor é
fechar-se, que não há saídas, o Espírito escancara as portas do coração, indica
caminhos de encontro e de comunhão, enche de ar renovado a vida. Aos apóstolos
amedrontados, o Espírito do Ressuscitado faz descobrir uma vida nova; de
enclausurados passam à aventura de enviados.
É por vezes difícil sair
do nosso cenáculo. E o Espírito vem, humilde e decidido, mais forte do que o
nosso desânimo, como vento que enche as velas da nossa vida, que dispersa as
cinzas da morte e que difunde por toda a parte os pólenes da primavera da
ressurreição.
No relato do Evangelho
não se faz referência à presença de Maria. Junto dos apóstolos, acredito que
Ela sorria serenamente, como se já conhecesse o rosto e o modo de agir do
Espírito. No seu interior já tinha experimentado a sua presença e tinha visto
dissipar-se, no silêncio, todas as perplexidades. Ela bem sabia que a semente
colocada por Deus no coração dos apóstolos trazia dentro de si a força para
desabrochar, florir e dar vida… para ser colheita do Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Vou considerar a ação do Espírito de Deus em mim e
procurar abandonar-me à sua moção íntima.
REZAR A PALAVRA
Vento dos céus,
fogo de amor, Espírito de Deus!
Hoje, exponho-me a ti como terra que implora a tua fecundidade;
Quero ser terra nova, deixar germinar em mim a vida que
vence a morte.
Vem a mim nos teus sete dons, abate as colinas do meu
egoísmo,
lavra a minha rigidez, arranca o cultivo que não é tua
sementeira,
e abre-me aos horizontes eternos que me chamam.
Opera, Tu, no meu ser, a obra em que te deliciarás!
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